segunda-feira, 25 de julho de 2011

SPM celabra Dia da Mulher Negra na Assembléia

Secretária Márcia Santana na mesa de abertura do Seminário Mulher Negra no poder, Rio Grande do Sul, Brasil e América
Secretária Márcia Santana na mesa de abertura do Seminário Mulher Negra no poder, Rio Grande do Sul, Brasil e América
Na segunda-feira ( 25) , referenciando os ancestrais africanos e as mulheres negras presentes, a secretária de Políticas para as Mulheres (SPM), Márcia Santana, fez um breve saudação na abertura do Seminário Mulher Negra no poder: Rio Grande do Sul, Brasil e América em alusão ao "Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha", que ocorreu no Plenarinho da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. O evento teve como eixo principal fortalecer as ações de grande importância na luta das mulheres negras pelos espaços políticos e sociais no Estado.
A busca pela extinção do preconceito racial, discriminação das mulheres negras na sociedade, equidade de gênero e raça, apropriação dos espaços midiáticos e empoderamento da mulher negra no Estado foram os temas abordados pela secretária Márcia Santana. "Mulher negra não é pouca coisa! É importante deixar claro que, entre os estupros, o número de mulheres negras é maioria. Tudo isto acaba remetendo, através do inconsciente coletivo, ao tempo da colônia e da escravidão no Brasil", complementa Márcia que convidou todas a participarem da IV Conferência Estadual de Mulheres.
Destacou a importância de se criar uma agenda fixa de encontros mensais para divulgação e mobilização de todas as questões que cercam as mulheres negras no Estado. Outra sugestão da secretária foi criação de um encontro, que anteceda a IV Conferência, para discutirem a importância dos terreiros africanos como forma de empoderamento das mulheres negras. "Todos sabem que as mulheres negras, quando sofrem violência, procuram esses espaços para acolhimento. Além de ser sagrado na religião afro, serve como ambiente civilizatório", finaliza a secretária.
Para a coordenadora de Diversidade do Departamento Pedagógico da Seduc, Eliane Almeida de Souza, é importante a inserção na grade curricular pedagógica do Estado, o ensino da cultura negra e formação dos professores para a história do negro no país. " Agora, é o momento propicio para iniciarmos esta ação. Os estudantes precisam conhecer a questão quilomnbola de um olhar diferente. Como os professores e educadores podem contribuir contra o preconceito racial na formação dos estudantes", complementa.
Estiveram presentes representantes da Prefeitura de Porto Alegre, Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), da Associação Beneficiente Cultural Africana Templo de Iemanjá (ASSOBECATY) e Central de Movimentos Populares do Rio Grande do Sul (CMP) através do Movimento 13 de Maio: abolição não conclusa para as mulheres negras, e movimentos negros.
História
O "Dia da Mulher Negra da América Latina e do Caribe" é um resultado do primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em 25 de julho de 1992, em Santo Domingo/República Dominicana, onde as mulheres enfatizaram a importância deste reconhecimento.
Desde então, a data tornou-se internacional estabelecida pela ONU. Em Porto Alegre, Nelma Soares da Associação Cultural de Mulheres Negras (ACMUN) foi a mulher negra que impulsionou a divulgação do 25 de julho dando visibilidade ao DIA DA MULHER NEGRA: SENHORA DE TODOS OS ESPAÇOS, realizando o primeiro evento em 1993, no Sindicato dos Trabalhadores Federais de Saúde, Trabalho e Previdência do RS (SINDISPREV).
Redação ASCOM SPM/RS

SPM celabra Dia da Mulher Negra na Assembléia

Secretária Márcia Santana na mesa de abertura do Seminário Mulher Negra no poder, Rio Grande do Sul, Brasil e América

Secretária Márcia Santana na mesa de abertura do Seminário Mulher Negra no poder, Rio Grande do Sul, Brasil e América Na segunda-feira ( 25) , referenciando os ancestrais africanos e as mulheres negras presentes, a secretária de Políticas para as Mulheres (SPM), Márcia Santana, fez um breve saudação na abertura do Seminário Mulher Negra no poder: Rio Grande do Sul, Brasil e América em alusão ao "Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha", que ocorreu no Plenarinho da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. O evento teve como eixo principal fortalecer as ações de grande importância na luta das mulheres negras pelos espaços políticos e sociais no Estado.
A busca pela extinção do preconceito racial, discriminação das mulheres negras na sociedade, equidade de gênero e raça, apropriação dos espaços midiáticos e empoderamento da mulher negra no Estado foram os temas abordados pela secretária Márcia Santana. "Mulher negra não é pouca coisa! É importante deixar claro que, entre os estupros, o número de mulheres negras é maioria. Tudo isto acaba remetendo, através do inconsciente coletivo, ao tempo da colônia e da escravidão no Brasil", complementa Márcia que convidou todas a participarem da IV Conferência Estadual de Mulheres.
Destacou a importância de se criar uma agenda fixa de encontros mensais para divulgação e mobilização de todas as questões que cercam as mulheres negras no Estado. Outra sugestão da secretária foi criação de um encontro, que anteceda a IV Conferência, para discutirem a importância dos terreiros africanos como forma de empoderamento das mulheres negras. "Todos sabem que as mulheres negras, quando sofrem violência, procuram esses espaços para acolhimento. Além de ser sagrado na religião afro, serve como ambiente civilizatório", finaliza a secretária.
Para a coordenadora de Diversidade do Departamento Pedagógico da Seduc, Eliane Almeida de Souza, é importante a inserção na grade curricular pedagógica do Estado, o ensino da cultura negra e formação dos professores para a história do negro no país. " Agora, é o momento propicio para iniciarmos esta ação. Os estudantes precisam conhecer a questão quilomnbola de um olhar diferente. Como os professores e educadores podem contribuir contra o preconceito racial na formação dos estudantes", complementa.
Estiveram presentes representantes da Prefeitura de Porto Alegre, Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), da Associação Beneficiente Cultural Africana Templo de Iemanjá (ASSOBECATY) e Central de Movimentos Populares do Rio Grande do Sul (CMP) através do Movimento 13 de Maio: abolição não conclusa para as mulheres negras, e movimentos negros.
História
O "Dia da Mulher Negra da América Latina e do Caribe" é um resultado do primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em 25 de julho de 1992, em Santo Domingo/República Dominicana, onde as mulheres enfatizaram a importância deste reconhecimento.
Desde então, a data tornou-se internacional estabelecida pela ONU. Em Porto Alegre, Nelma Soares da Associação Cultural de Mulheres Negras (ACMUN) foi a mulher negra que impulsionou a divulgação do 25 de julho dando visibilidade ao DIA DA MULHER NEGRA: SENHORA DE TODOS OS ESPAÇOS, realizando o primeiro evento em 1993, no Sindicato dos Trabalhadores Federais de Saúde, Trabalho e Previdência do RS (SINDISPREV).

Redação ASCOM SPM/RS

sábado, 23 de julho de 2011

Chegou em Porto Alegre Prof. Dra. Yá Cecilia do Ilê Axé de Maroketu de Salvador

24JUL

100_0862O Rio Grande do Sul amanheceu ensolarado, depois de semanas de frio e mau tempo. Prognóstico de dias mais quentes e melhores para receber a antropóloga bahiana Dra Yá Cecilia Conceição Soares, que vem a Porto Alegre à convite do Ilê de Tradição Templo de Yemanjá – ASSOBECATY. Para comemorar o Dia da Mulher Afro Latino Caribenha, Mãe Carmen de Oxalá produziu a estada da Yá compondo parcerias com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre – PMPA, com a Secretaria Estadual do Estado da Cultura/ Diretoria de Cidadadania Cultural e com a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial – SEPIR, além de diversos parceiros da sociedade civil como a Central do Movimentos Populares – CMP. 100_0863
     Ao chegar Yá Cecilia foi recepcionada no aeroporto por Mãe Carmen de Oxalá. À tarde será dedicada ao roteiro turístico e a boa mesa da culinária afro gaúcha, sem dispensar logo mais, o jantar em uma churrascaria na cidade.
100_0867

Nos próximos dias, no entanto, as atividades serão intensas: uma programação com palestras, bate papo, roda de capoeira, entrevistas e até um projeto de exposição fotográfica estão aguardando pelas Yalorixás.
    Para acompanhar e participar  das atividades acesse o programa no endereço

WWW.conexãoafro.wordpress.co

Chegou em Porto Alegre Prof. Dra. Yá Cecilia do Ilê Axé de Maraketu de Salvador

100_0862O Rio Grande do Sul amanheceu ensolarado, depois de semanas de frio e mau tempo. Prognóstico de dias mais quentes e melhores para receber a antropóloga bahiana Dra Yá Cecilia Conceição Soares, que vem a Porto Alegre à convite do Ilê de Tradição Templo de Yemanjá - ASSOBECATY. Para comemorar o Dia da Mulher Afro Latino Caribenha, Mãe Carmen de Oxalá produziu a estada da Yá compondo parcerias com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA, com a Secretaria Estadual do Estado da Cultura/ Diretoria de Cidadadania Cultural e com a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial - SEPIR, além de diversos parceiros da sociedade civil como a Central do Movimentos Populares - CMP. 100_0863
     Ao chegar Yá Cecilia foi recepcionada no aeroporto por Mãe Carmen de Oxalá. À tarde será dedicada ao roteiro turístico e a boa mesa da culinária afro gaúcha, sem dispensar logo mais, o jantar em uma churrascaria na cidade.
    100_0867

Nos próximos dias, no entanto, as atividades serão intensas: uma programação com palestras, bate papo, roda de capoeira, entrevistas e até um projeto de exposição fotográfica estão aguardando pelas Yalorixás.
    Para acompanhar e participar  das atividades acesse o programa no endereço

WWW.conexãoafro.wordpress.com

Chega a Porto Alegre Prof. Dra. Yá Cecilia do Ilê Axé de Maraketu– Salvador

100_0862O Rio Grande do Sul amanheceu ensolarado, depois de semanas de frio e mau tempo. Prognóstico de dias mais quentes e melhores para receber a antropóloga bahiana Dra Yá Cecilia Conceição Soares, que vem a Porto Alegre à convite do Ilê de Tradição Templo de Yemanjá - ASSOBECATY. Para comemorar o Dia da Mulher Afro Latino Caribenha, Mãe Carmen de Oxalá produziu a estada da Yá compondo parcerias com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA, com a Secretaria Estadual do Estado da Cultura/ Diretoria de Cidadadania Cultural e com a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial - SEPIR, além de diversos parceiros da sociedade civil como a Central do Movimentos Populares - CMP. 100_0863
     Ao chegar Yá Cecilia foi recepcionada no aeroporto por Mãe Carmen de Oxalá. À tarde será dedicada ao roteiro turístico e a boa mesa da culinária afro gaúcha, sem dispensar logo mais, o jantar em uma churrascaria na cidade.
    100_0867

Nos próximos dias, no entanto, as atividades serão intensas: uma programação com palestras, bate papo, roda de capoeira, entrevistas e até um projeto de exposição fotográfica estão aguardando pelas Yalorixás.
    Para acompanhar e participar  das atividades acesse o programa no endereço

1ª JUIZA NEGRA DO BRASIL LUISLINDA VALOIS

Depoimento Luislinda Valois - Viver a Vida - 05/05

Mulher, negra, iniciada em Candomblé, nordestina e determinada: essa é a juíza baiana Luislinda Valois

 Dayane

 

“Sou filha de Iansã, sou pintada, raspada, uso minhas contas onde passo e defendo meus orixás em todos os espaços que Deus deixou no mundo.”(Fonte da citação: bahianoticias.com.br)

O professor pediu o material de desenho, a custo o pai de Luislinda conseguiu comprar um, meio remendado. Pois bastou o professor ver o material para magoá-la para sempre. “Menina, deixe de estudar e vá aprender a fazer feijoada na casa dos brancos”. Ela chorou, ainda se emociona quando relembra, 58 anos depois. Mas tomou coragem e retrucou: “Vou é ser juíza e lhe prender”. A primeira parte, ela cumpriu. Em 1984, a baiana Luislinda Valois Santos tornou-se a primeira juíza negra do País. Não à toa, também foi quem proferiu a primeira sentença contra racismo no Brasil. Em 28 de setembro de 1993, condenou o supermercado Olhe Preço a indenizar a empregada doméstica Aíla de Jesus, acusada injustamente de furto. Aos 67 anos, lança em agosto seu primeiro livro, O negro no século XXI.

Como foi sua infância? Imagino que não tenha tido muitos recursos…

Faça uma pequena ideia (risos). Minha mãe era lavadeira e costureira e meu pai era motorneiro de bonde. Minha infância foi miserável, mas meus pais sempre primaram pela educação e pela nossa saúde. Quando eu tinha 9 anos, estava começando a estudar, um professor pediu um material de desenho e meu pai, coitado, não pôde comprar o que ele pediu, mas comprou outro. Quando cheguei à escola, feliz da vida, ele disse: “Menina, se seu pai não pode comprar o material, deixe de estudar e vá aprender a fazer feijoada na casa dos brancos”. Imagine como foi marcante pra mim (chora). Saí chorando. Mas sou muito impetuosa. Voltei, fui em cima dele e falei: “Não vou fazer feijoada para branco, não. Vou é ser juíza e lhe prender”. Em casa, ainda tomei uma baita surra do meu pai. Naquela época, não se podia desrespeitar professor.

Começou a trabalhar cedo?

Com 7 anos, quis aprender datilografia e, para pagar o curso, minha mãe sugeriu que eu lavasse aquelas fraldas de pano que se usava na época. Aí fiz isso. Mas, trabalhar realmente, comecei com 14 anos, como datilógrafa. Comecei na Companhia Docas da Bahia e, logo em seguida, minha mãe tinha acabado de morrer, me arrumaram um trabalho no DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rodagem, hoje Dnit). Fui crescendo lá: trabalhei como escrevente, escriturária, chefe de orçamento. Estudei filosofia, não concluí, depois comecei teatro, mas meu pai não me deixou cursar, disse que era coisa de prostituta. Aí, um dia, decidi fazer direito. Já tinha uns 34, 35 anos. Me inscrevi e passei na Universidade Católica. Me formei aos 39 anos, no dia 8 de dezembro e, no dia 9, começaram as inscrições para o concurso de procurador do DNER. Passei em primeiro lugar no Brasil. Mas não pude assumir aqui.

Por que não?

A pessoa que passou em último também era daqui da Bahia. Como eu não tinha padrinho político, algumas autoridades me puseram numa sala e falaram: “Doutora, precisamos da sua vaga aqui. Vamos lhe oferecer Sergipe ou Paraná”. Aí falei: como vocês estão me mandando embora, vou logo para longe. Fui para o Paraná. Com 90 dias, o chefe da procuradoria de lá se aposentou e fui designada para a vaga dele. Morei lá quase 8 anos.

Li que, antes de estudar direito, a senhora participou de um concurso de beleza. Como foi isso?

Trabalhava no DNER, tinha uns 20 anos, e um dia me chamaram na diretoria e falaram: “estão abrindo um concurso da Mais Bela Mulata e você vai ser a nossa miss” (risos). Aí eles foram falar com meu pai. Era de maiô e tudo, imagine… Meu pai ficou bastante reticente, mas por fim pediu a seu Rangel, que era o chefe do administrativo, para assinar um documento se responsabilizando pela minha integridade física (risos). A integridade física da época era a tal da virgindade, a preocupação era essa. Teve várias etapas. As mais importantes foram no Forte de São Marcelo e na Rua Chile, que era o point. Ganhei como Miss Simpatia.

E como se tornou juíza?

Estava em Curitiba e vim de férias para cá, soube do concurso pelo jornal A TARDE, que meu pai comprou. Falei: pronto, é agora. No dia seguinte, fiz a inscrição e as provas. Aí, uma noite, o telefone tocou e a menina disse que eu tinha sido aprovada. Acordei meia Curitiba, né? (risos). O fato de ser a primeira juíza negra do Brasil só me dá responsabilidade. Até hoje só temos dois ministros negros nos tribunais superiores. Por que isso? A inteligência não é privacidade de nenhuma raça. Até porque só existe uma raça, a humana. Ser juíza não é difícil. É só ter bom senso, estudar de manhã, meio-dia, de tarde e de noite e gostar de lidar com gente. Não pode pensar que, só porque o cidadão é marginal, ele já merece estar enclausurado. Primeiro se vai ver por que aquele sujeito virou marginal. A sociedade é quem escolhe quem vai delinquir. E te digo mais: nesse momento, a sociedade escolheu que é o negro, pobre, jovem, da periferia. Na hora que se tem de condenar, se não tiver a quem condenar, se condena o negro, mesmo que ele ainda esteja no ventre da mãe.

A senhora falou que não é “porque o cidadão é marginal que já merece estar enclausurado”. A sociedade espera uma resposta, de todo modo.

A sociedade não colabora para que as pessoas não cheguem a delinquir. O que é que se tem de dar? Oportunidades. Primeiro, educação de qualidade e continuada. Imagine uma pessoa que tem oito, dez filhos, se depara uma manhã sem ter o pão para alimentar seus filhos. Se não tiver muito equilíbrio, faz bobagem.

Já se viu diante de um caso desse? Como a senhora agiu?

Já, no interior. Resolvi da seguinte forma: fui até o prefeito e consegui um serviço de jardinagem para ele. A pena que dei foi que, com o primeiro salário, ele pagasse o que tinha pego. Nunca mais ouvi falar que esse rapaz fizesse nada de ilegal. Digo sempre o seguinte: se tiver eu e uma loira juntas, o que sumir primeiro, fui eu que peguei. É sempre o negro que é o delinquente de hoje.

No seu trabalho como juíza, ainda sofre muito preconceito?

Sou a sétima juíza mais antiga do Estado e nunca consegui ser convocada para o Tribunal. Me sinto preterida. Tenho certeza de que já era para eu ser desembargadora há muito tempo, preencho todos os requisitos. Para se saber o que é racismo, é só ficar negro por 48h. Certa vez, no juizado de Piatã, aproveitei o tempo para arrumar uns processos. Chegou uma advogada e falou: ‘O juiz vem hoje?’. Eu aí fiz um sinal para a moça não dizer que era eu. A advogada ficou lá, reclamando que juiz nunca chegava na hora, coisa e tal. Na hora da audiência, subi, pus a toga e, quando ela me viu, não acertou fazer nada. Tive de adiar a audiência. Falei: ‘Tenha paciência, a senhora toma um chazinho de erva-cidreira e, amanhã, nós continuamos’. Precisa maior racismo do que esse?

A senhora proferiu a primeira sentença contra racismo no Brasil. Como foi a repercussão do caso?

Me lembro bem. Aíla Maria de Jesus foi a um supermercado e quando estava saindo, o segurança a humilhou, disse que ela tinha posto na bolsa um frango congelado e dois sabonetes. Ela falou que, se ele chamasse a polícia, ela abriria a bolsa. Aí, a polícia chegou e viu que não tinha nada. Na época, a repercussão foi que o feitiço virou contra o feiticeiro (risos). Comecei a receber ameaças, o pessoal ligava para a minha casa dizendo: “Onde é que essa negra faz supermercado?” Fiquei com medo e pedi afastamento, resolvi voltar para Curitiba. Aí fui ao banco com meu filho, me sentei e ele foi resolver as coisas para mim. Passou um tempo o segurança ficou me olhando, depois veio outro, depois veio o gerente. E eu lá sem saber o que fazer. Pensei: se eu me mexer para pegar minha carteira de juíza, eles podem pensar que eu estou armada e me matar. Quando meu filho voltou, criei alma nova. Ele falou: “O que é isso com minha mãe?”. E o gerente respondeu: “Ela ficou muito tempo aí sentada”. Chorei a tarde inteira.

No livro O negro no século XXI, a senhora diz que “a Justiça é inacessível ao negro pobre”. A senhora é uma das idealizadoras do Balcão de Justiça e Cidadania, que atende moradores das periferias. Isso vem melhorando?

Sim. Criei o Balcão de Justiça e Cidadania, o Justiça Bairro a Bairro, Justiça Itinerante da Bahia de Todos-os-Santos e o programa Justiça, Escola e Cidadania, para levar a Justiça às escolas públicas. Recebi em Brasília, em 2006, o Primeiro Prêmio de Acesso à Justiça, pelo trabalho desenvolvido pelo Balcão. A ideia é resolver conflitos pela mediação, inclusive divórcios, separações, pensão alimentícia, que são os casos mais frequentes. As pessoas acham que, para ir até a Justiça, têm de estar com uma roupa muito arrumada, mas não precisa nada disso. Hoje, trabalho no juizado da Unijorge, que eu implantei.

Por que a Justiça na Bahia é uma das mais lentas no Brasil?

Primeiro, temos um número pequeno de magistrados e um número inaceitável de desembargadores. No Paraná, que é bem menor que a Bahia, são 120 desembargadores. Aqui, são apenas 35. É humanamente impossível. E a falta de recursos colabora bastante negativamente.

O movimento negro muitas vezes pleiteia políticas específicas, como as cotas. Isso não fere a Constituição, que diz que “todos são iguais perante a lei”?

Não se pode igualar os desiguais. Tudo que é inferior é encaminhado ao negro. As cotas são importantes, mas não permanentemente, porque senão parece esmola. É enquanto se equipara o ensino público e privado. O problema é que a qualidade da escola pública não melhora.

A maioria das vítimas de homicídio em Salvador são jovens negros. Qual é a parcela de responsabilidade da Justiça? Há apenas duas varas do júri para julgar esses casos.

Depois da visita a presídios, resolvi criar um projeto: Inclua no trabalho e na educação e exclua da prisão, para ocupar os jovens da periferia. A televisão fica com aquele ‘compre, compre, compre’. O adolescente vê um tênis e quer adquirir, seja como for. Pai e mãe também não têm condições, saem para trabalhar, deixam o menino sozinho. O que acontece? O traficante vai e coopta. O poder público é culpado por não dar condições para as famílias terem uma vida mais digna. Isso tudo vai desaguar no Judiciário, e falta estrutura.

No livro, a senhora também fala sobre aborto. É a favor da descriminalização?

Acho que se trata o assunto olhando somente a mulher pobre. A mulher rica faz aborto a todo instante, mas isso não vem a público, ela não morre, nem é presa. Acho que tem de deixar de ser crime, sim. Ninguém aborta porque quer.

A senhora é de santo, e o pastor Márcio Marinho, da Igreja Universal, assina a contracapa do seu livro. Como é a relação de vocês?

Me criei no candomblé, sou filha de Iansã. Acho que, primeiro, não se deve olhar a religião da pessoa, mas sim quem ela é. Já fiz parcerias com a Igreja Universal, e eles sempre cumpriram o papel deles.

Texto Tatiana Mendonça tmendonca@grupoatarde.com.br

Fotos Rejane Carneiro rcarneiro@grupoatarde.com.br

Fonte: Revista Muito #69 (26 de julho de 2009)

Entrevista extraída do blog: rogerioalcazar.wordpress.com

Fonte do vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=bAhGu8utIkc

Casamento x inteligência feminina: o dilema de Hermione

Posted on 17/07/2011 by Cynthia Semíramis

Gosto muito da série Harry Potter, e admiro a forma como Joanne Rowling conseguiu transformar uma historinha infantil em uma série sobre política. Ou vocês acham que ela não está falando de política ao criticar diversas formas de discriminação, escravidão, restrição à liberdade de expressão e de imprensa? E ela ainda reforça valores importantes ao tratar a tortura, a interferência na liberdade da outra pessoa e a pena de morte como ações imperdoáveis.
As personagens mulheres são maravilhosas, ativas, e com personalidades bastante diferentes. Particularmente, adoro a Hermione Granger: é inteligente, estudiosa, e não tem vergonha de participar nas aulas e mostrar que sabe a matéria. Espero que ela tenha inspirado mais meninas a se manifestarem nas aulas e não terem vergonha de gostarem de estudar. Precisamos lembrar que mulheres só tiveram direito à alfabetização e acesso aos estudos em tempos bastante recentes, e que ainda somos discriminadas em diversas áreas – portanto, valorizar o estudo feminino nunca é exagero.
Lembro que quando saiu o último livro, várias pessoas ficaram indignadas por Hermione ter um “final feliz”, se casando com Ron Weasley. Já ouvi várias coisas: que ela é inteligente demais pra ele, que ele é um idiota, que ela deveria ficar com Harry, que ela é nerd demais pra se casar. Podemos até chamar essa discussão de “dilema de Hermione”. Não porque ela tenha dúvidas, mas porque nós, fofoqueir@s de plantão, temos dúvidas por ela.
Indo para além da antipatia por Ron (que considero injusta), são bastante interessantes os comentários sobre o que deveria ser a vida afetiva de Hermione. Eles mostram que, embora cada vez mais mulheres estejam tendo acesso a altos estudos, na hora dos relacionamentos afetivos o estudo interfere contra a mulher. De certa forma, estamos repetindo velhos preconceitos machistas, que opõem a inteligência e os estudos das mulheres à satisfação emocional.
Em um mundo machista, o homem ocupar posição inferior à da mulher é uma tragédia. Não à toa, a maioria dos ditos populares sobre mulheres afirma que a esposa deve sermenos que o marido em termos de idade, altura, dinheiro e… inteligência. Afinal, a mulher inteligente não será boa esposa, pois terá habilidade suficiente para desafiar e mandar no marido.
Seguindo essa linha de raciocínio, parece que a pergunta de fundo sobre o dilema de Hermione é outra: quem será o homem que terá a infelicidade de ser dominado intelectualmente pela esposa? Será que ele tem fama ou riqueza que possam fazer contraponto à inteligência dela? Ou será um relacionamento desigual, em desfavor dele?
Pelo menos nos livros, todos os personagens admiram e respeitam a inteligência de Hermione, e não há problema com quem ela escolhe para se relacionar. Ao final, ela escolhe Ron, e o máximo que ele tem a oferecer ao casamento é pertencer a uma família de sangue puro – o que, nas circunstâncias do final da série de livros, não tem importância alguma.
Pela ótica machista, o relacionamento entre Ron e Hermione é desigual, e ele está se rebaixando em relação a ela (mais pobre, menos inteligente, menos famoso). Porém, estamos julgando os livros repetindo os velhos padrões machistas, negando a possibilidade de um casamento “desigual” quando a mulher está em posição superior à do marido. E estamos negando a uma mulher o direito de ter vida afetiva quando é inteligente e gosta de estudar. E estamos negando a um homem não tão inteligente quanto a namorada o direito de se casar com ela sem ser xingado ou perder status por isso.
O dilema de Hermione, na verdade, é o dilema de qualquer mulher minimamente inteligente nos dias atuais. Ela é cobrada incessantemente: negam a ela o direito a vida afetiva, ou defendem a sua solidão até que encontre o parceiro “perfeito”, que necessariamente deverá ser mais que ela. Com isso, forçamos as mulheres a escolher entre estudar e cultivar a inteligência, ou ter vida afetiva. Essas não são situações opostas, e não deveriam ser tratadas dessa forma, pois limitam as possibilidades de felicidade das mulheres.
Fonte
Cynthia Semíramis