sexta-feira, 29 de julho de 2011

Dia da Mulher Afro-Latina e Caribenha Programação È Comemorado na sede do Africaxé, na Morada do Vale I - Gravatai



 Mãe Fatima Aconteceu no domingo (24/07), comemoração ao Dia da Mulher Afro Latina e Caribenha. A programação ocorreu na sede da Africaxé, na rua Dario Totta, Morada do Vale I, das 10h às 18h. A iniciativa é da Prefeitura, através das Assessorias de Políticas Públicas Para a Mulher (APPM), o Idoso (APPI), a Juventude (APPJ), o Negro (APPN), Pessoas com Deficiência (APPPD) e do Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor (Procon), em parceria com diversas entidades da sociedade civil.
Conforme a assessora da APPM, Vera Quintana, a data é lembrada mundialmente na segunda-feira (25/07). “Em Gravataí faremos no domingo para possibilitar que um número maior de pessoas possam participar das atividades”, explicou. Vera conta que este dia foi criado em 1992, durante o primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingo, na República Dominicana. “Estipulou-se que este dia seria um dia de luta e de resistência da mulher negra”, salientou.
Segundo a presidente do Africaxé, Maria de Fátima Rodrigues, o objetivo de comemorar a data no Município é ampliar e fortalecer as organizações de mulheres negras e construir estratégias para a inserção de temáticas voltadas para o enfrentamento do racismo. “Também será dia de lutar contra o sexismo, discriminação, preconceito e demais desigualdades raciais e sociais, ampliar parcerias, dar visibilidade à luta, as ações, promovendo e valorizando o debate sobre a identidade da mulher negra brasileira”, ressaltou.
Programação
Estão programadas várias oficinas: culturais de capoeira com a Liga Gravataiense de Capoeira; de Beleza Afro-Maquiagem e Penteados de Tranças com o Grupo Africaxé; de Máscaras com Balões pela Associação de Artistas Visuais (AGIR); Feira de Gastronomia Afro; oficina de porta-estandarte e passistas da Escola de Samba Acadêmicos de Gravataí; além de apresentações musicais. No encerramento haverá uma homenagem ao aniversário do Africaxé.

A atividade tem parceria com: Grupo Africaxé, Escola de Samba Acadêmicos de Gravataí, Escola de Samba Cativos, Escola de Samba Unidos do Vale, AGIR, Associação Beneficente Seis de Maio, Liga Gravataiense de Capoeira, Associação Labirinto e Federação Brasileira das Religiões Afros e Umbanda (Concaugra).

Dia da Mulher Afro-Latina e Caribenha Programação È Comemorado na sede do Africaxé, na Morada do Vale I - Gravatai

 

 Mãe Fatima Aconteceu no domingo (24/07), comemoração ao Dia da Mulher Afro Latina e Caribenha. A programação ocorreu na sede da Africaxé, na rua Dario Totta, Morada do Vale I, das 10h às 18h. A iniciativa é da Prefeitura, através das Assessorias de Políticas Públicas Para a Mulher (APPM), o Idoso (APPI), a Juventude (APPJ), o Negro (APPN), Pessoas com Deficiência (APPPD) e do Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor (Procon), em parceria com diversas entidades da sociedade civil.

Conforme a assessora da APPM, Vera Quintana, a data é lembrada mundialmente na segunda-feira (25/07). “Em Gravataí faremos no domingo para possibilitar que um número maior de pessoas possam participar das atividades”, explicou. Vera conta que este dia foi criado em 1992, durante o primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingo, na República Dominicana. “Estipulou-se que este dia seria um dia de luta e de resistência da mulher negra”, salientou.

Segundo a presidente do Africaxé, Maria de Fátima Rodrigues, o objetivo de comemorar a data no Município é ampliar e fortalecer as organizações de mulheres negras e construir estratégias para a inserção de temáticas voltadas para o enfrentamento do racismo. “Também será dia de lutar contra o sexismo, discriminação, preconceito e demais desigualdades raciais e sociais, ampliar parcerias, dar visibilidade à luta, as ações, promovendo e valorizando o debate sobre a identidade da mulher negra brasileira”, ressaltou.

Programação
Estão programadas várias oficinas: culturais de capoeira com a Liga Gravataiense de Capoeira; de Beleza Afro-Maquiagem e Penteados de Tranças com o Grupo Africaxé; de Máscaras com Balões pela Associação de Artistas Visuais (AGIR); Feira de Gastronomia Afro; oficina de porta-estandarte e passistas da Escola de Samba Acadêmicos de Gravataí; além de apresentações musicais. No encerramento haverá uma homenagem ao aniversário do Africaxé.

A atividade tem parceria com: Grupo Africaxé, Escola de Samba Acadêmicos de Gravataí, Escola de Samba Cativos, Escola de Samba Unidos do Vale, AGIR, Associação Beneficente Seis de Maio, Liga Gravataiense de Capoeira, Associação Labirinto e Federação Brasileira das Religiões Afros e Umbanda (Concaugra).

quinta-feira, 28 de julho de 2011

1º Encontro Nordestino das Mulheres de Terreiro

A Rede de Mulheres de Terreiro de Pernambuco realizou nos últimos dias 20 21 e 22 de julho o 5º Encontro das Mulheres de Terreiro de Pernambuco e o 1º Encontro Nordestino das Mulheres de Terreiro. Um dos grandes momentos do encontro foi a homenagem realizada pela rede para as mulheres de grande importância na manutenção dos saberes religiosos e tradicionais de nosso estado, nossa Mãe Dada de Oxalá foi a primeira a ser homenagiada pela rede representando a ética ancestral das Iyalorixás.

É a força de Orixalá que através de Mãe Dada vem mostrando a sua importância.

Confira a postagem com todos os detalhes em nosso Blog!!!

www.oxalatalaby.blogspot.com

Tributo a mulheres negras traz Benedita da Silva, Antonio Pitanga e Neusa Borges à Bahia

Tributo a mulheres negras traz Benedita da Silva, Antonio Pitanga e Neusa Borges à Bahia
Troféu leva nome da deputada federal do PT carioca
Uma premiação a mulheres negras baianas que se destacaram na sua área de atuação ou na defesa da promoção da igualdade reunirá, nesta sexta-feira (29), em Camaçari, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) e os atores Antonio Pitanga e Neuza Borges. As homenageadas receberão uma placa honorífica que leva o nome da ex-governadora do Rio de Janeiro – Troféu Pérolas Negras Benedita da Silva – no evento que começa às 19 horas, no espaço Armazém, bairro Camaçari de Dentro.
A iniciativa é do mandato do deputado estadual Bira Corôa (PT-BA), presidente da Comissão de Promoção da Igualdade da Assembléia Legislativa da Bahia, e faz parte da programação ao Dia Internacional da Mulher Negra na América Latina e no Caribe, o 25 de julho. “Benedita da Silva é símbolo da luta de gênero e raça no País, primeira senadora e governadora negra brasileira. Das suas mãos, nossas pérolas negras estarão recebendo mais que uma honraria”, afirma o parlamentar.
A participação da atriz catarinense Neuza Borges, que interpreta a Dalva na reprise da novela “O Clone”, da TV Globo, é especial. O Legislativo estadual aprovou projeto que concede a ela título de Cidadã Baiana, uma proposta de Bira Corôa, que quis incluí-la no rol das homenageadas. “A sua resposta quando da nossa indicação foi tão generosa que decidimos entregar o troféu a essa atriz que se destaca como militante pela igualdade racial no Brasil”, afirma o deputado.
A entrega do troféu marca também pela diversidade no perfil das homenageadas. Entre elas tem juíza, pescadora, advogada, prefeita, líder religiosa, professora, mestra de capoeira, liderança comunitária, baiana de acarajé, atriz, jornalista, quilombola e sindicalista. O evento contará com apresentação de grupos culturais, com música e poesia.
Trajetória de Benedita
Benedita da Silva nasceu em 1942 na cidade do Rio de Janeiro, é formada como auxiliar de enfermagem e formação em Serviço Social. É casada com o ator Antônio Pitanga, que é pai de Camila e Rocco Pitanga. Foi vereadora (1982), deputada federal em 1986, reeleita para o segundo mandato em 1990. Em 1994, tornou-se a primeira mulher negra a ocupar uma vaga no Senado. Foi eleita vice-governadora do Rio de Janeiro em 1998 e, com a renúncia de Anthony Garotinho para concorrer à Presidência da República, assumiu o governo em abril de 2002, tornando-se a primeira mulheegra a governar um Estado brasileiro. Assumiu a Secretaria Especial da Assistência e Promoção Social, com status ministerial no Governo Lula e, em janeiro de 2007, a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, no Governo Sérgio Cabral Filho. Em 2010, elege-se, mais uma vez, deputada federal.

Lindinalva de Paula

3115-7035 /5279/7150

Roda de conversa "E tu vais fazer o que?" - Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha.

Um intenso debate sobre a mulher negra na sociedade brasileria se instalou no IAP na tarde do dia 25 de julho de 2011.
O Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha foi criado em 25 de julho de 1992, durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas, em Santo Domingos, República Dominicana. Estipulou-se que este dia seria o marco internacional da luta e da resistência da mulher negra. Desde então, sociedade civil e governo têm atuado para consolidar e dar visibilidade a esta data, tendo em conta a condição de opressão de gênero e racial/étnica em que vivem estas mulheres, explícita em muitas situações cotidianas.
O objetivo da comemoração de 25 de julho é ampliar e fortalecer às organizações de mulheres negras do estado do Pará, construir estratégias para a inserção de temáticas voltadas para o enfrentamento ao racismo, sexismo, discriminação, preconceito e demais desigualdades raciais e sociais. É um dia para ampliar parcerias, dar visibilidade à luta, às ações, promoção, valorização e debate sobre a identidade da mulher negra brasileira.
...temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades". Boaventura de Souza Santos.
Realização: ACIYOMI, GRENI, Instituto Nangetu, Grupo de Mulheres Felipa Aranha, CEDENPA, IMUNE, Rede Fulanas, AMNB, FMAP/ AMB, NÓS MULHERES, CMNN (Belém), e quem mais chegar.
Apoio: Rede de Cineclubes em Terreiros da Zona Metropolitana de Belém. A Rede de Cineclubes em Terreiros da Zona Metropolitana de Belém é uma articulação criada por poroposição do GT de Comunidades Tradicionais de Terreiros da Federação Paraense de Cineclubes - PARACINE, em parceria com a Diretoria Regional Norte do Conselho Nancional de Cineclubes - CNC. Fazem parte da Rede: Cineclube Nangetu, Cineclube ti Bamburucema, Cineclube ACIYOMI, Cineclube ACAOÃ, Cineclube Maristrela (AFAIA), Cineclube Estrela Guia Aldeia de Tupynambá, Cineclube do Turco Jaguarema, Cineclube da ARCAXA.
Acompanhe nos vídeos abaixo os discursos das lideranças femininas paraenses que marcaram esta data comemorativa no estado do Pará. E também veja as
fotos aqui.

MÃE MENININHA DO GANTOIS/ uma breve história

Sacerdotisa inspirava a doçura característica de Oxum, orixá a qual era consagrada. Foto: Arquivo A TARDE

Sacerdotisa inspirava a doçura característica de Oxum, orixá a qual era consagrada.

Jaime Sodré

Para ser aplicado no uso da Lei 10.639/08.

“Os candomblés estão batendo/Foguetes explodem no ar/Em louvor a Menininha/Senhora Mãe e Rainha do Gantois/ Pelo seu aniversário/ De cinquentenário de iyalorixá/ Oh,oh,oh. Salve Mamãe Oxum/ Salve meu Pai Xangô/Cinquentenário de Batalha/Cinquentenário de fé/ Desde quando recebeu/ Os poderes de Maria dos Prazares Nazaré/ Sua vidência se alastrou Iyaô, Iyaô, Iyaô/Sacerdotisa de uma raça/Rainha de uma nação/Na luta em defesa dos descrentes/Ela sempre estendeu suas mãos/Hoje os candomblés estão batendo/Pra seu nome venerar/Iyami Modijubá/Salve o seu axé/seu candomblé/no alto do Gantois. .[1]

Ederaldo Gentil, inspirado compositor baiano, sintetizou, neste belíssimo samba, um acontecimento que mobilizou os diversos segmentos da Cidade de Salvador em 1972: o centenário de sacerdócio de Maria Escolástica Nazaré, a festejada Mãe Menininha do Gantois, a “Oxum mais bonita”, como afirmaram os versos de outro compositor famoso, Dorival Caymmi. Assim era Menininha, cantada em verso e prosa mas, acima de tudo, respeitada e reverenciada. Vamos nos valer de um depoimento efetivado por Mãe Menininha, junto ao etnólogo Valdeloir Rego, para nossas acertivas.

Nascida a 10 de fevereiro de 1894, na Rua da Assembléia, entre a Rua do Tira Chapéu e a Rua da Ajuda, no Centro Histórico de Salvador, Menininha teve como pais Joaquim e Maria da Glória Assunção. A sua família era dedicada ao culto dos Orixás, possuindo linhagem nobre, com raízes localizadas em Agbeokuta, na Nigéria, de onde vieram os pais de Maria Júlia da Conceição Nazaré, fundadora do Terreiro de “nação” Keto na Bahia, esse Terreiro que, da Barroquinha, zona central de Salvador, transferiu-se para um terreno, arrendado à família Gantois, localizado no bairro da Federação.[2]

Maria Escolástica, nascida no dia de Santa Escolástica, foi iniciada nos ritos africanos com a idade tenra de oito meses de nascida, oportunidade em que sua tia e antecessora, Pulcheria da Conceição Nazaré, conhecida como Kekerê, numa alusão à sua titulação hierárquica ocupando o cargo de Iya kekerê (Mãe pequena), vaticinou: “É filha de Oxum”, e a profecia concretizou-se. Oxum é a Deusa da beleza e do rio. Oxum, na Nigéria, é um Orixá muito popular e é cultuado em Salvador com extrema devoção.

A 18 de fevereiro de 1922, “a estrela mais linda do Alto do Gantois” inicia a sua trajetória religiosa, tendo recebido o poder místico diretamente de Oxóssi, Deus da Caça, rei de Keto, e de Xangô, Deus do Fogo e do Trovão, rei de Oyo, secular capital do povo yoruba.

Assumir a liderança do Ilê Iya Omin Axé Iyamassé, o Terreiro do Gantois, com pouca idade não se daria sem a natural polêmica. Além do mais, normalmente, o Axé, ou seja, o poder místico para exercer o cargo de Mãe-de-santo, é passado por outra Mãe-de-santo, qualificada para tal. Os ânimos foram apaziguados porque foram os Orixás que realizaram a escolha: “Os Orixás quiseram logo escolher quem ficaria tomando conta da Casa. E eles mesmos me deram posse, não foram pessoas não. Primeiro foi Oxóssi, depois Xangô, Oxum e Obaluaê. Eles me deram esse cargo de felicidade que estou ocupando até o dia em que Deus quiser,”[3]  comentava.

Menininha sucedeu Maria Pulchéria, que havia falecido, um grande nome, merecedor de um estudo aprofundado.De um candomblé situado no Barroquinha, fundado pelos africanos Babá Assiká, Babá Adetá e Iya Nassô, nasceu o Ilê Iya Nassô, conhecido como candomblé do Engenho Velho, a famosa Casa Branca, e o Axé Iyamassé, titulação litúrgica do também famoso Candomblé de Menininha. Maria Júlia da Conceição Nazaré, que carregava orgulhosamente sobre sua cabeça o Orixá Bayani, irmão de Xangô, foi a fundadora deste respeitado templo da religiosidade afro-brasileira.

O nome de Maria Júlia, em nagô, era Omonikê; sua mãe chamava-se Akalá e o seu pai Okanrindê, nascidos em Akê, local onde fica o Palácio do rei de Agbeokuta, na Nigéria. Akalá tinha como orixá (dono de sua cabeça) Nanã Buruku, e Okanrindê possuia como orixá Aganju e ocupava, junto ao rei, um alto cargo intitulado Assolu Obá.

Reafirmando sua qualidade de estar sempre integrada aos fatos do seu tempo, Mãe Menininha abordava diversos aspectos que interagiam com seu cotidiano, o que deslumbrava sua visão de mundo e o contexto social circundante às suas atividades de sacerdotisa.

A respeito de seu carinhoso apelido, dizia: “Não sei quem pôs em mim o nome de Menininha… Minha infância não tem muito o que contar… Agora, dançava o candomblé com todos desde os seis anos”, o que revela uma precocidade bem vinda e um acúmulo de conhecimentos, revelados importantes em sua idade madura, no exercício do cargo de Iyalorixá.

Referindo-se aos tempos sombrios do violento preconceito e perseguições ao culto afro-brasileiro, assim expressava-se: “Eu tinha 22 anos no tempo da perseguição violenta da polícia aos candomblés, não era Orixá nem Mãe-de-santo. Foi uma época dura.” Identificando os algozes deste período brutal, e caracterizando sua atuação, dizia: “Um delegado que conhecemos muito, Dr. Pedro de Azevedo Gordilho, incomodou muitos pequenos candomblés.”

Mais tarde, recebe a convocação para o exercício de sua vida de liderança religiosa: “Quando os Orixás me escolheram, não recusei porque respeito muito a seita… Esta obrigação é árdua, não é uma coisa que se pegue com uma mão só… Isso é uma coisa de grande responsabilidade”. Dizia, consciente da grande missão que os Orixás lhe reservaram.

Contemporânea de figuras memoráveis do candomblé, Mãe Menininha respeitava-as, porém sabia da sua capacidade e conhecimentos para uma tarefa tão importante: “Conheci os grandes candomblés da Bahia…  Conheci as grandes Mães-de-santo: a do Engenho Velho, Ursulina; a outra, Senhora Marcelina; dona Aninha do Axé Opo Afonjá… Apesar de ter sido escolhida pelos Orixás muito nova, nunca precisei pedir conselhos às outras Iyalorixás”, dizia com uma discreta ponta de orgulho, porém sem perder a humildade, sua maior característica.

Em reconhecimento à dedicação integral à sua missão sagrada, caracterizada pela solidariedade aos que a procuravam em busca de auxílio, pessoas de todos os níveis sociais eram atendidas em suas aflições e incertezas, seus amigos registraram os seus 50 anos de sacerdócio com uma placa de bronze, com a seguinte inscrição: “Nesta casa de Candomblé da Sociedade São Jorge do Gantois, Ilê Iya Omin Axé Iymassê, situado no Largo da Pulchéria, no Alto do Gantois, há 50 anos, Dona Maria Escolástica da Conceição Nazaré, Mãe–de-santo Menininha do Gantois, zela do alto do seu posto de Ialorixá, com exemplar dedicação e perene bondade, pelos orixás e pelo povo da Bahia”. Estava registrada em metal nobre, o bronze de Oxum, uma história de dedicação ao próximo, à tradição afro-brasileira e aos Orixás.

As atividades e responsabilidades decorrentes do cargo assumido alteraram, sobretudo, sua vida particular: “Meu marido, quando me conheceu, sabia que eu era do candomblé… A gente viveu em paz porque ele passou a gostar de Candomblé. Mas, quando fui feita Iyalorixá, passamos a morar separados. No meu terreiro, eu e minhas filhas. Marido não. Elas nasceram aqui mesmo”.

Mãe Menininha, como líder espiritual e pessoa sociável, conviveu com pessoas das mais diversas opções religiosas, num relacionamento respeitoso, no qual os pontos de vista sobre o mundo, observado de formas diferentes, não causavam nenhuma dificuldade para uma amizade sincera. O ex-Abade do Mosteiro de São Bento, Dom Timóteo Amoroso Anastácio, figura de destaque da vida social e religiosa e respeitadíssimo na comunidade baiana, expressou, por diversas vezes, sua admiração pela Iyalorixá, ressaltando a amizade de ambos, do que não pedia reservas e declarava publicamente, como exemplo de convivência a ser seguido no combate às intolerâncias.

Assim pensava, sobre o tema, Mãe Menininha: “Para mim, todas as religiões são verdadeiras, agora cada um na sua… Antigamente, as pessoas pensavam tantas coisas ruins do candomblé, mas ele é bom e não faz mal a ninguém. Os padres deveriam entender isso… África conhece o nosso Deus tanto quanto nós o conhecemos, com nome diferente, mas é o mesmo Deus com o nome de Olorum”, e acrescentava, numa postura sincrética, indiferente às posições contrárias a essa opinião: “Tenho um pouco da religião católica porque encontrei na minha família muita crença no catolicismo. Fiz minha primeira comunhão e ouvi missa.” [4]

Mãe Menininha não acreditava na possibilidade do candomblé desaparecer, perdendo suas características fundamentais, porém admitia que o mesmo sofrera transformações: “Antigamente, nós tínhamos mais fé nos Orixás, mais respeito também.” Sobre o perfil dos novos frequentadores do candomblé, observava: “O povo do candomblé é mais pobre, mas de uns tempos para cá muita gente rica tem aparecido… para mim, essa gente vem com mais curiosidade do que fé… Acho que as pessoas como eu, zeladoras do culto, devem ter o máximo de cuidado… Essas pessoas querem ver tudo, sem pertencer à seita.”

Sobre sua postura ética, assim expressava-se: “Eu aqui me meto em certos apuros porque só trabalho para a linha do bem” e diagnosticava: “sabe por que as pessoas têm mais problemas hoje? É a falta de Deus (Olorum).” Sua fama extrapolava a cidade de Salvador, na plenitude de sua dedicação e percorria o mundo. Muitos queriam vê-la, ouvi-la, e eram atendidos, ultimamente na medida de sua disponibilidade e estado de saúde. Porque ela fazia questão de atender, num grande esforço e dedicação.

No dia 13 de agosto de 1986, na plenitude de sua fé e perfeita intimidade com os Orixás, aos 92 anos de uma vida voltada à preservação e expansão do legado sagrado, herança deixada pelos nossos ancestrais africanos, Maria Escolástica Nazaré retorna ao Orum. Falece Mãe Menininha do Gantois e sobrevive sua obra. Segundo o antropólogo Júlio Braga, em função de viver permanentemente no “Lessé Orixá”, ou seja, aos pés ou na companhia da sua entidade protetora, a natureza da divindade passa a ser a natureza da pessoa, sendo que, para os adeptos das nações Keto, Angola, Jeje etc., Mãe Menininha era um Orixá que viveu no meio de nós. “Ela era um Orixá”, afirmava convicto o rei de Ijebu Ore, supremo sacerdote da religião na Nigéria, quando da sua visita à Iyalorixá, em julho de 1983.[5]

Legítima filha de Oxum e uma das sacerdotisas mais respeitadas do culto afro-brasileiro, essa era a opinião de intelectuais, políticos, artistas e o povo em geral, em especial dos adeptos do candomblé. No seu longo reinado de 64 anos à frente do Terreiro do Gantois, impôs respeito e admiração à religião dos Orixás: “Os integrantes do movimento negro, de caráter político, espalhado em todo Brasil, interpretam a fidelidade da Mãe Menininha à religião africana como um exemplo de resistência negra.”[6]

No dia 10 de fevereiro de 1991, em Salvador, na Bahia, local onde viveu e praticou sua fé, foi inaugurado o Memorial Menininha do Gantois, situado no Terreiro onde exerceu suas atividades, espaço que traduz, na exposição dos objetos que lhe pertenciam, as virtudes enquanto mulher e sacerdotisa.

Nesta oportunidade, assim expressou-se, entre outros ilustres, o escritor Jorge Amado: “Quando jogava ao búzios sobre a toalha rendada, os Orixás atendiam ao seu chamado, vinham das lonjuras para ela conversar em intimidade… Aqui continuas a zelar pelos Orixás e pelo povo da Bahia, Mãe Menininha do Gantois, aqui resplandece tua memória imortal.”

Caetano Veloso afirmara: “A memória de Mãe Menininha projeta-se para o futuro de um Brasil que há de merecer uma vida à altura dos deuses que vieram, pelo destino trágico do seu povo, habitar nossas florestas, nossas ruas, nossa língua e nossos sonhos… A memória de Mãe Menininha é a memória do que há de mais profundo  e mais denso em nossa formação cultural.” E sintetiza Nizan Guanaes: “Nem todo o Brasil conhece candomblé, mas todo mundo conhece Mãe Menininha.”[7]

No dia 3 de fevereiro de 1994, a prefeita de Salvador, Lídice da Mata, inaugurou, no Alto do Gantois, a Praça Pulchéria, em homenagem ao centenário de nascimento de Mãe Menininha. Participaram  artistas, intelectuais e o povo. Após o ato de inauguração, houve a bênção do padre Rubens, vigário da Paróquia do Divino Espírito Santo, à qual pertence a comunidade do Gantois, simbolizando a união de  culturas religiosas tão ao gosto da filha de Oxum, batizada Maria Escolástica. O governador Antônio Carlos Magalhães compareceu às vésperas da inauguração, sendo recebido por integrantes do Terreiro, tendo à frente Mãe Cleuza, sucessora, filha espiritual e de sangue de Mãe Menininha.

Zeno Millet, filho de Mãe Cleuza, afirmava: “Isso era desejo do marido de Mãe Menininha (também já falecido) homenagear a sua antecessora, tia Pulchéia,” e acrescentava: “O aniversário de minha avó não contará com cerimônias sagradas e restritas. Todas as atividades até o dia 10 serão abertas ao público.”[8]

Como se observa, o Terreiro Ilê Iya Omin, Terreiro do Gantois, tem a sua continuidade, zelando pelos mesmos parâmetros traçados pelas ilustres antecessoras. Foi e continua sendo um poço de sabedoria e acervo importante das tradições afro-brasileiras e exercício de tradição e negritude, superando suas dificuldades ou conflitos inerentes a qualquer vivência coletiva, administrado sob inspiração dos orixás e capacidade de suas lideranças, cultuando as suas memórias, patrimônio que inspirou Caymmi a dizer, em sinceros versos, amparados por uma bela melodia; “Ai, minha Mãe, minha Mãe Menininha, Ai, minha Mãe, Menininha do Gantois… Olorum quem mandou essa  filha de Oxum tomar conta da gente e de tudo cuidar, Olorum quem mandou ê ô, Ora yeyê ô.”

Jaime Sodré é doutorando em História Social,professor, poeta, compositor e religioso do candomblé.

Casamento x inteligência feminina: o dilema de Hermione

Gosto muito da série Harry Potter, e admiro a forma como Joanne Rowling conseguiu transformar uma historinha infantil em uma série sobre política. Ou vocês acham que ela não está falando de política ao criticar diversas formas de discriminação, escravidão, restrição à liberdade de expressão e de imprensa? E ela ainda reforça valores importantes ao tratar a tortura, a interferência na liberdade da outra pessoa e a pena de morte como ações imperdoáveis.
As personagens mulheres são maravilhosas, ativas, e com personalidades bastante diferentes. Particularmente, adoro a Hermione Granger: é inteligente, estudiosa, e não tem vergonha de participar nas aulas e mostrar que sabe a matéria. Espero que ela tenha inspirado mais meninas a se manifestarem nas aulas e não terem vergonha de gostarem de estudar. Precisamos lembrar que mulheres só tiveram direito à alfabetização e acesso aos estudos em tempos bastante recentes, e que ainda somos discriminadas em diversas áreas – portanto, valorizar o estudo feminino nunca é exagero.
Lembro que quando saiu o último livro, várias pessoas ficaram indignadas por Hermione ter um “final feliz”, se casando com Ron Weasley. Já ouvi várias coisas: que ela é inteligente demais pra ele, que ele é um idiota, que ela deveria ficar com Harry, que ela é nerd demais pra se casar. Podemos até chamar essa discussão de “dilema de Hermione”. Não porque ela tenha dúvidas, mas porque nós, fofoqueir@s de plantão, temos dúvidas por ela.
Indo para além da antipatia por Ron (que considero injusta), são bastante interessantes os comentários sobre o que deveria ser a vida afetiva de Hermione. Eles mostram que, embora cada vez mais mulheres estejam tendo acesso a altos estudos, na hora dos relacionamentos afetivos o estudo interfere contra a mulher. De certa forma, estamos repetindo velhos preconceitos machistas, que opõem a inteligência e os estudos das mulheres à satisfação emocional.
Em um mundo machista, o homem ocupar posição inferior à da mulher é uma tragédia. Não à toa, a maioria dos ditos populares sobre mulheres afirma que a esposa deve ser menos que o marido em termos de idade, altura, dinheiro e… inteligência. Afinal, a mulher inteligente não será boa esposa, pois terá habilidade suficiente para desafiar e mandar no marido.
Seguindo essa linha de raciocínio, parece que a pergunta de fundo sobre o dilema de Hermione é outra: quem será o homem que terá a infelicidade de ser dominado intelectualmente pela esposa? Será que ele tem fama ou riqueza que possam fazer contraponto à inteligência dela? Ou será um relacionamento desigual, em desfavor dele?
Pelo menos nos livros, todos os personagens admiram e respeitam a inteligência de Hermione, e não há problema com quem ela escolhe para se relacionar. Ao final, ela escolhe Ron, e o máximo que ele tem a oferecer ao casamento é pertencer a uma família de sangue puro – o que, nas circunstâncias do final da série de livros, não tem importância alguma.
Pela ótica machista, o relacionamento entre Ron e Hermione é desigual, e ele está se rebaixando em relação a ela (mais pobre, menos inteligente, menos famoso). Porém, estamos julgando os livros repetindo os velhos padrões machistas, negando a possibilidade de um casamento “desigual” quando a mulher está em posição superior à do marido. E estamos negando a uma mulher o direito de ter vida afetiva quando é inteligente e gosta de estudar. E estamos negando a um homem não tão inteligente quanto a namorada o direito de se casar com ela sem ser xingado ou perder status por isso.
O dilema de Hermione, na verdade, é o dilema de qualquer mulher minimamente inteligente nos dias atuais. Ela é cobrada incessantemente: negam a ela o direito a vida afetiva, ou defendem a sua solidão até que encontre o parceiro “perfeito”, que necessariamente deverá ser mais que ela. Com isso, forçamos as mulheres a escolher entre estudar e cultivar a inteligência, ou ter vida afetiva. Essas não são situações opostas, e não deveriam ser tratadas dessa forma, pois limitam as possibilidades de felicidade das mulheres.
Fonte
Cynthia Semíramis

Casamento x inteligência feminina: o dilema de Hermione

Gosto muito da série Harry Potter, e admiro a forma como Joanne Rowling conseguiu transformar uma historinha infantil em uma série sobre política. Ou vocês acham que ela não está falando de política ao criticar diversas formas de discriminação, escravidão, restrição à liberdade de expressão e de imprensa? E ela ainda reforça valores importantes ao tratar a tortura, a interferência na liberdade da outra pessoa e a pena de morte como ações imperdoáveis.
As personagens mulheres são maravilhosas, ativas, e com personalidades bastante diferentes. Particularmente, adoro a Hermione Granger: é inteligente, estudiosa, e não tem vergonha de participar nas aulas e mostrar que sabe a matéria. Espero que ela tenha inspirado mais meninas a se manifestarem nas aulas e não terem vergonha de gostarem de estudar. Precisamos lembrar que mulheres só tiveram direito à alfabetização e acesso aos estudos em tempos bastante recentes, e que ainda somos discriminadas em diversas áreas – portanto, valorizar o estudo feminino nunca é exagero.
Lembro que quando saiu o último livro, várias pessoas ficaram indignadas por Hermione ter um “final feliz”, se casando com Ron Weasley. Já ouvi várias coisas: que ela é inteligente demais pra ele, que ele é um idiota, que ela deveria ficar com Harry, que ela é nerd demais pra se casar. Podemos até chamar essa discussão de “dilema de Hermione”. Não porque ela tenha dúvidas, mas porque nós, fofoqueir@s de plantão, temos dúvidas por ela.
Indo para além da antipatia por Ron (que considero injusta), são bastante interessantes os comentários sobre o que deveria ser a vida afetiva de Hermione. Eles mostram que, embora cada vez mais mulheres estejam tendo acesso a altos estudos, na hora dos relacionamentos afetivos o estudo interfere contra a mulher. De certa forma, estamos repetindo velhos preconceitos machistas, que opõem a inteligência e os estudos das mulheres à satisfação emocional.
Em um mundo machista, o homem ocupar posição inferior à da mulher é uma tragédia. Não à toa, a maioria dos ditos populares sobre mulheres afirma que a esposa deve ser menos que o marido em termos de idade, altura, dinheiro e… inteligência. Afinal, a mulher inteligente não será boa esposa, pois terá habilidade suficiente para desafiar e mandar no marido.
Seguindo essa linha de raciocínio, parece que a pergunta de fundo sobre o dilema de Hermione é outra: quem será o homem que terá a infelicidade de ser dominado intelectualmente pela esposa? Será que ele tem fama ou riqueza que possam fazer contraponto à inteligência dela? Ou será um relacionamento desigual, em desfavor dele?
Pelo menos nos livros, todos os personagens admiram e respeitam a inteligência de Hermione, e não há problema com quem ela escolhe para se relacionar. Ao final, ela escolhe Ron, e o máximo que ele tem a oferecer ao casamento é pertencer a uma família de sangue puro – o que, nas circunstâncias do final da série de livros, não tem importância alguma.
Pela ótica machista, o relacionamento entre Ron e Hermione é desigual, e ele está se rebaixando em relação a ela (mais pobre, menos inteligente, menos famoso). Porém, estamos julgando os livros repetindo os velhos padrões machistas, negando a possibilidade de um casamento “desigual” quando a mulher está em posição superior à do marido. E estamos negando a uma mulher o direito de ter vida afetiva quando é inteligente e gosta de estudar. E estamos negando a um homem não tão inteligente quanto a namorada o direito de se casar com ela sem ser xingado ou perder status por isso.
O dilema de Hermione, na verdade, é o dilema de qualquer mulher minimamente inteligente nos dias atuais. Ela é cobrada incessantemente: negam a ela o direito a vida afetiva, ou defendem a sua solidão até que encontre o parceiro “perfeito”, que necessariamente deverá ser mais que ela. Com isso, forçamos as mulheres a escolher entre estudar e cultivar a inteligência, ou ter vida afetiva. Essas não são situações opostas, e não deveriam ser tratadas dessa forma, pois limitam as possibilidades de felicidade das mulheres.
Fonte
Cynthia Semíramis

Sobre Maconha

-  Acaso já viu um estudante usuário melhorar suas notas na escola?
-  Acaso já viu um pai usuário aumentar o amor e a harmonia no lar e na família?
-  Acaso já viu um profissional usuário melhorar o desempenho em sua profissão?
-  Acaso já viu homens viciados felizes rapaz?
Você pode fazer a diferença!
               Nenhum de nós pode dizer com 100% de certeza que a droga nunca fará parte da vida de alguém que amamos,
sejam nossos filhos, netos, irmãos, primos e amigos, ou simplesmente o filho do seu vizinho, talvez você pense que não tem nada a ver só porque ele é seu vizinho? Engano seu! Pela lei do retorno o que não queremos para nós não podemos desejar para o outro, que não deixa de ser nosso irmão divinamente. É por isso que estamos enviando a você está divulgação, este convite, para a Caminhada Nacional Contra a Liberação da Maconha! Até porque dificilmente um usuário de droga não teve seu começo com a maconha.
            Pense nisso, se você acha que não vai fazer a diferença, veja só:
Se você mandar para DEZ pessoas e cada uma delas mandar para mais DEZ e DEZ... Quando estiver na 5ª sequência nós teremos atingido 100.000 ( CEM MIL ) pessoas! Se você não pode participar, ajude divulgando para mais pessoas. Você viu como pode fazer a diferença!?
VAMOS JUNTOS LUTAR PELA VIDA!


Acesse:
http://www.pelavida.org<http://www.pelavida.org/>

Você é feminista? Opa, opa, não responda

Você é feminista?  Opa, opa, não responda. Antes de qualquer coisa, deixa eu te falar que entendo o quanto essa palavra traz um fardo enorme por trás dela. Não é a mesma coisa de dizer “ah, sou socialista”. Ser socialista é bonito e justo. Ser feminista é ser implicante e falar de assuntos polêmicos. Ou você não sabe, que sendo feminista, rola a maior tensão no meio de um papo quando as pessoas começam a falar sobre mulheres? Todos olham para você com uma cara de medo esperando começar a terceira guerra mundial.

Crédito da Foto: The Justified Sinner no Flickr em CC.

Carla Rodrigues fez uma entrevista com Maitena, a autora do livro “Mulheres Alteradas” e questionou se ela é feminista. A resposta foi a seguinte:

“Bem, o termo feminismo foi muito degradado ultimamente, mas não gosto de dizer que não sou feminista, por que acredito que se não fosse pelo trabalho que este movimento realizou nos últimos cem anos, ainda estaríamos todas passando roupa.”

Na entrevista, Maitena fala diversas vezes sobre como o feminismo é importante, mas nessa fala podemos perceber que o feminismo é reconhecido sim, mas ainda há um medo de simplesmente se colocar como feminista justamente por mitos que foram criados com o passar do tempo. Afinal, quem degradou o termo feminista? Por que um termo que já foi revolucionário para muit@s é visto hoje como “o contrário do machismo”?

Em outro texto de Carla Rodrigues, “Feministas são bacanas”, ela mostra algumas pesquisas sobre o que as pessoas acham do feminismo.

“Algumas respostas podem ser encontradas na visão negativa que 33% homens – e 20% das mulheres – têm do feminismo. Para 19% dos homens e para 12% das mulheres, ser feminista é defender a superioridade da mulher sobre o homem. Já 16% dos homens e 8% das mulheres associam feminismo a autoritarismo das mulheres.”

Muitas pessoas ainda associam o feminismo com a superioridade da mulher perante o homem e podemos associar com o velho mito de que a o feminismo quer acabar com os homens. O feminismo conta hoje com vários homens no movimento e, lutamos também para mostrar como o machismo também prejudica os homens. Se queremos acabar com os homens, por que os queremos ao nosso lado nessa luta?

Carla Rodrigues ressalta que muit@s acham que feministas são donas da verdade, arrogantes que não aceitam a “verdade”. Pensando sobre isso, podemos questionar o motivo de tanto estranhamento para o termo feminista. Bem, não fomos educad@s para entender o feminismo, a mídia não mostra o que realmente aconteceu (nas muitas manifestações feministas não fica claro qual é o motivo de estarem ali, isso quando alguma manifestação é mostrada), ou seja, não visualizamos em quase nenhum lugar o que é realmente o tal feminismo. Normalmente, quando as pessoas ouvem falar sobre o movimento é carregado de piadas e preconceitos e com aquela frase “lá vem a chata inventar machismo onde não existe”.

Muitas pessoas manifestam opiniões sobre o feminismo sem saberem ao certo o que é o movimento e o que ele significa. Por ser desconhecido, o feminismo acaba despertando um certo receio nas pessoas. Além disso, o feminismo luta por mudanças e alterar o status quo também gera medo. Como viver de forma diferente? O objetivo dessa campanha é mostrar o que é o feminismo para que o movimento deixe de ser algo estranho para as pessoas e mostrar a que veio o feminismo, mostrando que mudanças são bem-vindas e que podem beneficiar a tod@s. O que fazer para desmitificar, para fazer com que as pessoas entendam que feministas são seres humanos acima de qualquer coisa e por isso tem escolhas individuais? O fato de ser feminista não me faz ter obrigação de não me depilar, não passar maquiagem ou não assistir novela e me divertir. Ser feminista não me faz ter ódio de homens ou ser uma mal comida. Enfim, ser feminista me faz ter uma visão de mundo que vai de encontro à igualdade entre as diferenças não só das mulheres, mas dos homens também.

Por isso pensamos em fazer uma campanha para desmitificar o feminismo. A intenção dessa campanha é chamar todas as pessoas que são feministas e também aquelas que não são. Você pode falar de um mito especifico, como por exemplo: Feminista não usa maquiagem e falar um pouco sobre, tentando falar sobre como essa afirmação incomoda e não é verdadeira. Pode falar sobre os mitos de uma forma geral e pontuar sobre a importância de acabar com eles e levantar a bandeira do feminismo. Ou seja, a intenção é desmitificar de alguma forma. E pode ser através de posts no blog, vídeos, desenhos, músicas, twitter, facebook, Google +, tumblr, as redes sociais como um todo.

Vamos encher a internet com a hashtag #mitosfeminismo e mostrar que o feminismo vai além dessas histórias que são plantadas por aí. Vamos mostrar do que o feminismo realmente trata!

Campanha: 29/07 a 05/08. Participe e cole o selo em seu blog!

Selo para a Campanha por Tatiana Anzolin Michels

Um guia para você que tem vergonha de se assumir como feminista
Fonte: Blogueiras Feministas | Blogueiras Feministas

Homen gravido pode abortar?

O Grupo Católicas pelo Direito de Decidir é uma entidade feminista, de caráter inter-religioso, que busca justiça social e mudança de padrões culturais e religiosos vigentes em nossa sociedade, respeitando a diversidade como necessária à realização da liberdade e da justiça. Entre suas ações está a produção de vídeos como Homem Grávido?

A idéia é nos fazer refletir sobre o quanto somos donos de nossos corpos e o quanto podemos decidir sobre eles. Então, uma das perguntas é: se homem engravidasse o aborto seria proibido? Seguidas de outras: aborto seria crime? Quem tem direito de decidir sobre o corpo das mulheres? É uma situação hipotética, porém nos ajuda a pensar como, socialmente, o corpo do homem e da mulher são vistos e tratados de maneira diferentes. A idéia da maternidade como símbolo maior da mulher e, como representação do seu destino na terra, contribui para desenvolver políticas que anulem a autonomia da mulher sobre seu corpo. Mas e o homem? Socialmente qual a responsabilidade que é cobrada dele em relação a paternidade? Apenas o de provedor. Esses papéis sexuais acabam tornando nossa sociedade menos autônoma, pois as pessoas não são livres para decidirem sobre suas vidas.

Eu fiz um aborto. Imagem de Lorenzo D' Uva, no Flickr em CC alguns direitos reservados.

Nossa luta pela descriminalização e pela legalização do aborto quer proporcionar um aborto legal, seguro e raro. Há várias mentiras espalhadas sobre essa questão que precisam ser esclarecidas, como mostra o texto Aborto: 10 razões para legalizar, do Sapataria – Coletivo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais do DF, que reproduzo aqui:

- Legalizar o aborto não vai fazer todas as mulheres “saírem abortando” bebês de até 9 meses, todos os dias em hospitais públicos e, fazendo com que o números de abortos aumente drasticamente gerando um caos social. Os números já são drásticos: aproximadamente mil mulheres morrem por ano ao realizarem abortos na clandestinidade. Fora essas, estima-se que 2 milhões de abortos clandestinos são realizados por ano. Essa soma é apenas aproximada porque é ilegal. Se o aborto fosse legalizado, o governo teria oficialmente o número de abortamentos, poderia controlá- los e saberia onde tem mais ou menos abortos para tentar diminuir este número. Se o aborto é crime não se tem controle, o número de abortos não diminui, mais mulheres morrem, mais pessoas são presas e o governo não pode fazer nada para mudar isso.

- Em países ocidentais onde o aborto foi legalizado, observa-se a cada ano uma diminuição do número de abortos. Porque quando se legaliza, fala-se mais sobre o assunto aumentando a informação e promovendo a prevenção.

- As clínicas clandestinas funcionam em condições precárias oferecendo riscos a vida das mulheres ou praticam preços abusivos e só conseguem ser frequentadas por pessoas com alto poder aquisitivo. O problema do abortamento clandestino acaba sendo das mais pobres, em sua maioria negras, que não encontram opções e ainda correm o risco de serem presas. Criminalização só aumenta a hipocrisia e os bolsos de muita gente.

- Se o aborto for legalizado nenhuma mulher será obrigada a abortar. Não haverá uma sala de abortamento em cada hospital, pronta para obrigar toda e qualquer grávida a isso. A mulher que decidir abortar terá é direito a atendimento médico, podendo fazer o procedimento de forma segura.

- Legalizar o aborto não é incentivar o aborto. Junto com a legalização, o Estado vai reforçar campanhas de educação sexual, direitos sexuais e reprodutivos, aumentar o acesso de mulheres e homens para os métodos contraceptivos, como também aos métodos de uma gravidez saudável. Abortar não é algo prazeroso, mas se alguma mulher precisar fazer, que ela não seja presa e tenha assistência para isso.

- A legalização do aborto não vai encher os hospitais de milhares de mulheres querendo abortar, não sobrando espaço para as que querem dar à luz, isso é uma mentira. Os hospitais atendem diversos casos de mulheres que abortaram na clandestinidade e quase morreram por causa disso. Acaba que isso tem um custo bem maior do que a realização de um aborto seguro e legal.

- Se você pensa que com a legalização do aborto, você mata 1 vida, com a criminalização do aborto você mata mais vidas: a do feto e a de milhares de mães que morrem tentando o processo de abortamento.

- A legalização não defende que abortar é bom. Se você pensa que abortar é ruim, abortar na clandestinidade, ser presa ou até morrer é muito pior.

- Ser contra o aborto é decidir por você. Ser contra a legalização do aborto é decidir por todas. Ser contra o aborto é não achar certo fazer um aborto. Ser contra a legalização do aborto é ser a favor da morte de milhares de mulheres.

Homen gravido pode abortar?

O Grupo Católicas pelo Direito de Decidir é uma entidade feminista, de caráter inter-religioso, que busca justiça social e mudança de padrões culturais e religiosos vigentes em nossa sociedade, respeitando a diversidade como necessária à realização da liberdade e da justiça. Entre suas ações está a produção de vídeos como Homem Grávido?

A idéia é nos fazer refletir sobre o quanto somos donos de nossos corpos e o quanto podemos decidir sobre eles. Então, uma das perguntas é: se homem engravidasse o aborto seria proibido? Seguidas de outras: aborto seria crime? Quem tem direito de decidir sobre o corpo das mulheres? É uma situação hipotética, porém nos ajuda a pensar como, socialmente, o corpo do homem e da mulher são vistos e tratados de maneira diferentes. A idéia da maternidade como símbolo maior da mulher e, como representação do seu destino na terra, contribui para desenvolver políticas que anulem a autonomia da mulher sobre seu corpo. Mas e o homem? Socialmente qual a responsabilidade que é cobrada dele em relação a paternidade? Apenas o de provedor. Esses papéis sexuais acabam tornando nossa sociedade menos autônoma, pois as pessoas não são livres para decidirem sobre suas vidas.

Eu fiz um aborto. Imagem de Lorenzo D' Uva, no Flickr em CC alguns direitos reservados.

Nossa luta pela descriminalização e pela legalização do aborto quer proporcionar um aborto legal, seguro e raro. Há várias mentiras espalhadas sobre essa questão que precisam ser esclarecidas, como mostra o texto Aborto: 10 razões para legalizar, do Sapataria – Coletivo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais do DF, que reproduzo aqui:

- Legalizar o aborto não vai fazer todas as mulheres “saírem abortando” bebês de até 9 meses, todos os dias em hospitais públicos e, fazendo com que o números de abortos aumente drasticamente gerando um caos social. Os números já são drásticos: aproximadamente mil mulheres morrem por ano ao realizarem abortos na clandestinidade. Fora essas, estima-se que 2 milhões de abortos clandestinos são realizados por ano. Essa soma é apenas aproximada porque é ilegal. Se o aborto fosse legalizado, o governo teria oficialmente o número de abortamentos, poderia controlá- los e saberia onde tem mais ou menos abortos para tentar diminuir este número. Se o aborto é crime não se tem controle, o número de abortos não diminui, mais mulheres morrem, mais pessoas são presas e o governo não pode fazer nada para mudar isso.

- Em países ocidentais onde o aborto foi legalizado, observa-se a cada ano uma diminuição do número de abortos. Porque quando se legaliza, fala-se mais sobre o assunto aumentando a informação e promovendo a prevenção.

- As clínicas clandestinas funcionam em condições precárias oferecendo riscos a vida das mulheres ou praticam preços abusivos e só conseguem ser frequentadas por pessoas com alto poder aquisitivo. O problema do abortamento clandestino acaba sendo das mais pobres, em sua maioria negras, que não encontram opções e ainda correm o risco de serem presas. Criminalização só aumenta a hipocrisia e os bolsos de muita gente.

- Se o aborto for legalizado nenhuma mulher será obrigada a abortar. Não haverá uma sala de abortamento em cada hospital, pronta para obrigar toda e qualquer grávida a isso. A mulher que decidir abortar terá é direito a atendimento médico, podendo fazer o procedimento de forma segura.

- Legalizar o aborto não é incentivar o aborto. Junto com a legalização, o Estado vai reforçar campanhas de educação sexual, direitos sexuais e reprodutivos, aumentar o acesso de mulheres e homens para os métodos contraceptivos, como também aos métodos de uma gravidez saudável. Abortar não é algo prazeroso, mas se alguma mulher precisar fazer, que ela não seja presa e tenha assistência para isso.

- A legalização do aborto não vai encher os hospitais de milhares de mulheres querendo abortar, não sobrando espaço para as que querem dar à luz, isso é uma mentira. Os hospitais atendem diversos casos de mulheres que abortaram na clandestinidade e quase morreram por causa disso. Acaba que isso tem um custo bem maior do que a realização de um aborto seguro e legal.

- Se você pensa que com a legalização do aborto, você mata 1 vida, com a criminalização do aborto você mata mais vidas: a do feto e a de milhares de mães que morrem tentando o processo de abortamento.

- A legalização não defende que abortar é bom. Se você pensa que abortar é ruim, abortar na clandestinidade, ser presa ou até morrer é muito pior.

- Ser contra o aborto é decidir por você. Ser contra a legalização do aborto é decidir por todas. Ser contra o aborto é não achar certo fazer um aborto. Ser contra a legalização do aborto é ser a favor da morte de milhares de mulheres.

Os gays e a Bíblia

É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos.
No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as “pessoas diferenciadas”...).
Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc).
No 60º aniversário da Decclaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela “despenalização universal da homossexualidade”.
A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu Catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.
Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.
São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.
A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que “quem ama conhece a Deus” (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama...).
Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?
Ora, direis ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os “eunucos de nascença” (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.
Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?
Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei.
Autor: Frei Betto

A Comissão de Educação e Cultura

A Comissão de Educação e Cultura aprovou nesta quarta-feira o Projeto de Lei 6383/09, do Senado, que obriga as instituições de ensino a empregar a flexão de gênero para nomear profissão ou grau nos diplomas expedidos. Pela proposta, pessoas que já receberam o diploma poderão requerer novo documento com a mudança.

De acordo com a relatora, deputada Eliane Rolim (PT-RJ), embora pelas normas formais da língua portuguesa o gênero gramatical deva coincidir com o sexo da pessoa a que se refere, é praxe entre instituições de ensino utilizar o masculino para denominar profissão ou grau obtido por mulheres.

PreconceitoNa opinião da deputada, mais que desconhecimento das regras gramaticais essa prática revela a resistência do preconceito contra as mulheres na sociedade brasileira. Ela argumenta que, “em nível simbólico, usar apenas substantivos masculinos para designar graus acadêmicos e profissões, é negar às mulheres o direito de ter o mesmo espaço profissional e intelectual que os homens.”

Liane Rolim cita dados do site Mais Mulheres no Poder, segundo os quais a presença feminina não chega a 20% nos cargos de maior nível hierárquico no Parlamento, nos governos municipais e estaduais, nos ministérios e secretarias federais, assim como no Judiciário, em sindicatos e nas reitorias.

Apenas na iniciativa privada, segundo afirma, já se conseguiu alcançar 20% de chefes mulheres. “O que se verifica em nossa sociedade é uma cultura de divisão sexual do trabalho”, sustenta.

Tramitação
Em regime de prioridade, o projeto segue para análise conclusiva da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Íntegra da proposta:

A imprensa quer políticos fortes cercados por mulheres meigas?


Agência Patrícia Galvão

Os diferentes adjetivos utilizados na cobertura sobre as nomeações das ministras Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti fazem pensar que o jornalismo brasileiro parece operar com uma forte expectativa sobre o comportamento das mulheres na política, esperando que elas sejam conciliadoras, ouvintes atentas, menos agressivas que os homens, menos competitivas, menos "tratores". Parece haver, em relação às mulheres, um modelo idealizado sobre o comportamento feminino na política.

Ao mesmo tempo em que reconhecem que a política é uma área competitiva e agressiva, jornalistas e colunistas das editorias de Política e Poder criticam nas ministras atitudes consideradas exacerbadas para mulheres. Não estariam eles alimentando uma visão arcaica, romântica ou mesma preconceituosa sobre as mulheres na política?
"Dez em cada dez das raposas mais felpudas com assento ou trânsito livre no Congresso apostam no fracasso do que batizaram de a 1ª República da Saia Justa, a experiência de termos no Palácio do Planalto os três cargos mais importantes ocupados por mulheres – a presidência, a chefia da Casa Civil e o ministério das Relações Institucionais."

A 1ª República do Salto Alto, por Ricardo Noblat (blog O Globo - 13/06/2011)

Elas Chegaram lá – O Palácio do Planalto parece agora o Clube da Luluzinha (O Globo - 11/06/2011)

A nomeação das ´inflexíveis´ Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti, por Melchiades Filho (Folha de S.Paulo - 13/06/2011)

"O risco de Dilma agora atende pelo nome de Ideli Salvatti. A sua nomeação provocou reações entre aliados e oposicionistas. ´É como apagar fogo com gasolina´", por João Bosco Rabello (O Estado de S. Paulo - 12/06/2011)

A Agência de Notícias Patrícia Galvão ouviu especialistas no tema Mulheres na Política e colheu os seguintes comentários:

A MÍDIA EXACERBA CARACTERÍSTICAS DAS NOVAS MINISTRAS

“Os comentários intolerantes e inflexíveis da grande mídia - não só nas notícias, mas nos artigos assinados por colunistas que se dizem progressistas – deixam muito visível o conservadorismo que se manifesta violentamente quando mulheres se colocam, dão um passo à frente. Ao exacerbarem as características das mulheres - prepotentes, inflexíveis, arrogantes – querem dizer, nas entrelinhas, que estão fora de seus lugares, que são inaptas para a política. Mais do que isso, há uma aposta de que elas não vão dar certo; como se a política fosse um mundo doce, das gentilezas, e não marcado por disputas, conflitos, asperezas. A imprensa faz uma reconfiguração do ambiente da política como se traços mais afirmativos e mais agressivos não existissem, quando são exatamente os que marcam esse mundo. Um homem no poder, ao se mostrar mais pacato, menos agressivo, é apontado como fraco, tanto que o ex-ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, foi criticado e deixou o cargo exatamente por falta das características que, nas ministras, são exacerbadas e pejorativas. Raramente, um homem, ao assumir um cargo é julgado dessa forma; a mídia não exacerba suas características e aspectos físicos, mas pontua sua trajetória. Ambas Gleissi Hofmann e Ideli Salvatti têm história política.”

Clara Araújo, socióloga, pesquisadora de pós-graduação do Departamento de Ciências Sociais e coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Desigualdade e Relações de Gênero, ambos da UERJ. Contatos: (21) 8441.2719 claramaria.araujo@gmail.com Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
SEXISMO ESTAMPADO NA IMPRENSA

“O sexismo estampado pela grande imprensa só reflete o quanto a classe política brasileira é conservadora. Até Veríssimo, que é um dos mais brilhantes dos nossos jornalistas, escorregou no uso pejorativo da palavra “bonitinha” ao se referir à nova ministra da Casa Civil. O s novos acadêmicos e os não acadêmicos da imprensa têm revelado cotidianamente sua vulgaridade ao se referir às mulheres cuja competência, dignidade e brilho são características incontestáveis.”

Lena Lavinas – economista e professora associada do Instituto de Economia da UFRJ
Rio de Janeiro/RJ


Veja também:
"Em apenas um dia, após Gleise Hoffmann ser empossada no cargo de ministra da Casa Civil, no último dia oito de junho, 1885 matérias na mídia online foram publicadas sobre o assunto. Nas redes sociais, a notícia dominou 66% das mensagens postadas no Twitter, informa a empresa de monitoramente de mídia
MITI Inteligência. (...) Quando estudamos o histórico de notícias sobre 'mulheres no poder', observamos um crescente volume de publicações. De 2008 a 2010 foram veiculados no ambiente online mais de 170 mil notícias sobre o tema", conclui Elizangela" Grigoletti, gerente de inteligência e marketing da MITI Inteligência. -Termo "Gleise Hoffmann" dominou Twitter (Portal Imprensa - 10/06/2011)
Dilma começa a 'controlar próprio governo', avaliam analistas (G1 - 11/06/2011)
Dilma se cerca de mulheres no Planalto e agora tem um Ministério com quase um terço feminino (O Globo - 10/06/2011)
Saiba quem é Ideli Salvatti, a nova articuladora do Planalto (G1 - 10/06/2011)
Saiba quem é Gleisi Hoffmann, a nova ministra da Casa Civil (G1 - 07/06/2011)

Fonte: Universidade Livre Feminista

Existem Mulheres Estupráveis?

Texto da escritora Ana Rita, do Blogueiras Feministas

Olá Crianças,
Algum dias atrás recebemos a noticia do estupro de uma mulher, pastora de uma igreja evangélica. Isso mesmo, a líder religiosa de uma determinada comunidade foi estuprada por um dos membros de sua congregação. Fato lastimável, inaceitável, absurdo. Talvez você possa estar pensando: Bom, pelo menos ela tem os membros fiéis, cristãos de sua comunidade para lhe apoiar… A referida pastora foi AFASTADA de sua congregação por CONDUTA IMORAL, pois segundo as lideranças da igreja, se ela foi estuprada e agredida é porque ela não gritou e se defendeu o suficiente.

O que comentar de um fato como este? Espero que no minimo estas pessoas sejam processadas judicialmente, pois é INADMISSÍVEL este tipo de comentário sobre uma mulher vítima de estupro, além do que esta acusação de conduta imoral foi divulgada em toda a igreja, a pastora agredida, ainda foi humilhada perante a sua congregação. Espero que agressor e congregação tambem agressora sejam exemplarmente punidos, e que a Pastora tenha forças para seguir em frente, apesar de tamanho violência que sofreu.

O culpar mulheres por estupros, duvidar de sua palavra, alegar que a mesma pode ter seduzido o estuprador, estava pedindo, infelizmente é rotina no Brasil, existe um senso comum de que nós mulheres somos dotadas de pecado e sedução, assim temos o poder de despertar a “besta” que há dentro de cada homem. “Ele não se controlou”, “Ele estava bêbado”, “Ela estava provocando”, converse sobre casos de violência sexual na sua familia, na sua vizinhança e você certamente ouvirá estas frases.

Outra idéia comum é de que existem mulheres estupráveis. Em alguns casos o estupro é encarado como cortesia, quem sabe um bem para a mulher, ele pode gerar frutos bons. No orkut, popular site de relacionamentos da internet, temos uma comunidade que faz apologia a penetração corretiva, uma “bem intencionada” ação para que mulheres deixem de ser lésbicas. Se uma mulher é “solteirona”, é considerada feia, o estupro dela toma uma forma de favor, quem sabe “ela até gostou”, é uma frase chavão que aparece nesses casos. Aqui entram também as piadinhas sobre a violência sexual e mulheres fora do dito “padrão de beleza”. Uma outra questão ainda nesse tema das mulheres estupráveis: nada mais estupravel que uma prostituta.

Você acha que as prostitutas denunciam as agressões que sofrem durante a realização de programas, ou mesmo quando estão andando pelas ruas? Não, não denunciam! Pois elas são prostitutas logo estão ali “para tudo”. E no caso das que conseguem denunciar, você acha que as autoridades dão ouvidos? Não, não dão. A prostituta é estuprável.

A mulher vive uma dicotomia na sociedade, ela tem seu papel reservado: ela é santa esposa-mãe ou puta. Se ela não é casada e tem filhos, ela é puta, se ela possui uma vida pública ela é puta, se ela é solteira, divorciada, ela é puta, se sai com seus amigos, ela é puta, e se ela é puta, ela é estuprável.

O Coletivo Feminino Plural, entidade feminista da qual sou assistente de projetos, desenvolveu um documentário chamado Canto de Cicatriz falando sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes, onde dentro da proposta de trabalho, coletamos depoimentos não somente de vitimas de violência sexual, mas também de pessoas nas ruas sobre o assunto. Ao falar sobre a violência contra meninas adolescentes, boa parte dos entrevistados levantou a questão da menina que “provoca” o homem: elas usam roupas curtas, elas estão pedindo, elas estão cada vez mais assanhadas. Quão cruel é imputar à vítima a culpa sobre a violência extrema que sofreu. NADA justifica ou minimiza um estupro, independente da situação da mulher, ela é vitima de uma agressão. Questões circunstanciais não podem servir para amenizar a pena ou culpa do agressor. De forma alguma um homem será menos culpado por causa da vestimenta da vitima, do horário em que ela andava na rua. Uma mulher pode estar nua andando na frente de um homem, a noite numa rua, isso não dá a ele o direito de violentá-la.

Na comunidade Feminismo e Libertação do Orkut, uma companheira usou o seguinte termo uma vez “o direito inalienável da foda masculina”. E é isso que vemos, o homem naturalmente tem o direito de “cobrir” todas as fêmeas, ele é o senhor do mundo e pode tudo e nós meras mulheres, no nosso inconsciente estamos pedindo que um macho venha nos cobrir.

A pornografia esta ai, violenta, criminosa, suja, doentia, incentivando a violência contra a mulher, alimentando o fetiche sobre o estupro e o quanto nós gostamos da mistura de sexo e violência, digitando novinha sendo estuprada no google, você terá mais de 500 mil referências. E isso alimenta nossa sociedade, alimenta nossos filhos, irmãos, pais, amigos, maridos e colegas. Isso é cruel.

A cada 2 minutos, 5 mulheres sofrem algum tipo de violência no Brasil. Mas podemos ignorar tudo isso, podemos simplesmente continuar culpabilizando aquela que historicamente é tida como serva do demônio, porta do pecado, ardilosa. No Brasil colônia mulheres eram trancafiadas em casa por suspeita de conduta imoral, a Igreja tecia novenas e rezas para controlar os instintos satânicos das mulheres que seduziam os homens, na Idade Média Européia fomos chamadas a tribunais, fomos mortas por acusações de atos libidinosos incentivados pelo demônio, por compactuarmos com satanás. Hoje nas igrejas somos chamadas e excluídas da congregação por conduta imoral, ao sermos violentadas..

Parece que o tempo parou… Ou será que fomos nós?

Fonte: Universidade Livre Feminista

terça-feira, 26 de julho de 2011

Heterossexualidade e poder

Profa. Dra. Berenice Bento/UFRN*

Até pouco tempo escutávamos que “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”. Também era um costume lavar a honra com o sangue da mulher assassinada. Casos de mulheres assassinadas por seus parceiros dificilmente chegavam à justiça. Nas últimas décadas houve uma proliferação de movimentos e estudos mostrando que o espaço da casa, o lar doce lar, é marcado pela violência e que para alterar hábitos seculares era importante combinar ações dos movimentos sociais com políticas públicas que objetivassem acabar com violência no espaço familiar, ao mesmo que se aprovaram leis que penalizam os criminosos. Portanto, o espaço doméstico tem sido um dos lugares mais normatizados pelo Estado nas últimas décadas, a exemplo da Lei Maria da Penha e do Estatuto da Infância e Adolescente. Quando a Presidenta Dilma afirma que “não podemos interferir na vida privada das pessoas”, contraditoriamente, esquece o papel fundamental do Estado brasileiro, pressionado por movimentos socais, na transformação desse espaço.
Nesse processo histórico de politização do privado, a violência contra os filhos e as filhas homossexuais passou a ter visibilidade. O que pode um pai e uma mãe contra um filho homossexual? Tudo? Se o argumento for pelo costume, ou seja, aquilo que tem força reguladora das relações entre as pessoas pela repetição, então, neste, caso, os pais podem tudo, principalmente contra filhos não heterossexuais. E, de fato, as pesquisas mostram a violência brutal dos pais que descobrem que seus filhos são gays, lésbicas ou transexuais ou travestis. A resposta costumeira para esta descoberta tem sido a expulsão de casa. Pela declaração da Presidenta, nada se poderá fazer. Mas a família não está só na tarefa de preservação do “costume heterossexual”, tem como aliada outra instituição poderosa: a escola.
As inúmeras teses e pesquisas produzidas por pesquisadores/as de universidades brasileiras apontam que a escola é um dos espaços mais violentos para crianças que apresentam comportamentos “não adequados” para os “costumes heterossexuais”. Não basta falar de bullying, palavra asséptica, que não revela o heteroterrorismo a que estas crianças e adolescentes são submetidos. A reiteração de agressões verbais e físicas contra meninos femininos e meninas masculinas desfaz qualquer ilusão de que a heterossexualidade é um dado natural. Desde que nascemos somos submetidos diariamente a um massacre: “comporte-se como menina, feche as pernas, seja homem, menino não chora”. A produção da heterossexualidade é um projeto diário e violento.
Imaginem o sofrimento de um estudante que precisa freqüentar a escola, mas sabe que ali será agredido física e psicologicamente. Uma das mulheres transexuais que entrevistei afirmou: “Era um horror. Na hora do recreio eu ficava sozinha. Ninguém brincava comigo. Eu me sentia uma leprosa. Por várias vezes, a professora viu os meninos me xingando de viadinho e ela só fazia ri.” O riso da professora seria um costume? Desnecessário afirmar que esta mulher transexual, como tantas outras, não conclui seus estudos. Os indicadores de sucesso e fracasso escolar, ou evasão, subestimam a variável violência homofóbica.
Muitos professores argumentam que não têm instrumentos didático-pedagógicos para fazer uma reflexão com seus estudantes sobre respeito e diversidade sexual.
A disputa que assistimos em torno do material pedagógico Escola Sem Homofobia nos revela que produção da heterossexualidade não tem nada a ver com “costumes” inseridos no âmbito do privado, mas com poder. A bancada religiosa do Congresso Nacional sabe muito bem disso. Sabe que a produção de uma pessoa heterossexual é um projeto que deve contar com o apoio absoluto de todas as instituições: a família, a escola e, claro, os representantes do Estado.
*Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Coordenadora do Núcleo Tirésia-UFRN

Publicada em: 02/06/2011 às 12:00 artigos e resenhas

CLAM

FILOSOFIA E COMPORTAMENTO: TRANSGÊNERES

Autora: Karin Hueck - Revista SuperInteressante Abril 2009, pag. 62

Toda criança nasce com um sexo. Mas nem toda criança acha que nasceu no sexo certo. Quando isso acontece, estamos diante de um dos maiores desafios da medicina.

Quando Nick tinha 3 anos, seu pai John, achava estranho que o menininho gostasse tanto de vestir uma camiseta bem comprida e ficar andando com ela pela casa, como se estivesse de vestido. Também não entendia a fascinação da criança por tudo que era cor-de-rosa ou porque ele só dava nomes femininos a seus animais de pelúcia. Um dia, John presenciou uma cena estranha. Junto com dois outros meninos, o filho brincava no jardim. Mas, enquanto os amiguinhos fingiam ser Batman ou Super-Homem, Nick imaginava ser uma fada-princesa. Aquilo disparou o alarme, o menino gostava demais de coisas de meninas, e ficava muito triste quando tinha de se vestir de acordo com seu sexo. A mãe, então, arriscou, "Nick você gostaria de comprar um vestido?" A reação do filho assustou os pais.

Ele começou a tremer e a ofegar, de tanta felicidade. Foi aí que tudo ficou claro, Nick só seria feliz se vivesse como menina. E foi exatamente isso que os pais fizeram.

Hoje aos 7 anos, Nick se chama Mary. Deixou o cabelo crescer, só usa roupas femininas e mudou de vida. Na escolinha, na Califórnia, quase ninguém sabe que ela é um menino com variação de gênero, que especialistas estimam afetar 1 em cada 500 crianças. E ninguém imagina que ela mudou de sexo ainda durante a infância.

Geralmente é logo no começo da infância que os pais reparam no comportamento estranho. Meninos as vezes tentam arrancar o próprio pênis e meninas não suportam a ideai de usar um vestido. "Só fui perceber que era um menino aos 3 anos de idade, quando a professora mandou os alunos se dividirem por sexo. Eu fiquei chateada, porque antes disso achava que era uma menininha como as outras", diz Luciana, uma paulistana de 28 anos, cujo nome no RG ainda é Luciano.

Em crianças assim, a tendência é a situação só se agravar, Isso porque durante a infância é fácil fazer uma criança se passar pelo sexo oposto, bastam umas roupas cor-de-rosa ou umas camisas de futebol, O problema é quando a puberdade se aproxima.

Na adolescência, a criança começa a ter consciência da sua sexualidade e passa pelas maiores (e mais irreversíveis) mudanças fisiológicas da vida. Já não é um período fácil para quem está satisfeito com o seu gênero, imagine então, para quem rejeita o próprio corpo. Ter seios e menstruar, ou ter barba e engrossar a voz, são o pesadelo de qualquer criança com transtorno de identidade de gênero.

"Metade dos adolescentes transgêneres tentam se matar entre a puberdade e a vida adulta" diz Stephanie Brill, autora do livro "The transgender child" (A criança transgênere, ainda sem tradução para o português). Luciana passou boa parte da sua vida sem fazer sexo, de tanta aversão que sentia a seu pênis. Se para essas pessoas a adolescência é tão traumática, o que pode ser feito? Segundo a sociedade internacional de endocrinologia, a resposta é bloquear a puberdade.

A ideia parece radical, mas já está sendo feita na Europa e nos EUA desde o começo dos anos 2000. Quando uma criança é diagnosticada com transtorno de identidade de gênero, o tratamento começa entre os 10 e 12 anos. Nessa idade, prescrevem-se os bloqueadores de puberdade, originalmente criados para crianças que entram na adolescência muito cedo, aos 7 ou 8 anos. O mais comum deles é o hormônios liberador de gonadotrofina (GnRH), que impede a testosterona e o estrogênio de agir. Sem esses hormônios, o corpo fica "congelado" numa infância eterna. Ele não se desenvolverá para nenhum gênero e ficará sexualmente neutro. O método foi imaginado para que as crianças tenham tempo de decidir a qual sexo pertencem, sem que seu corpo passe pelas mudanças sem volta da puberdade.

"Bloquear a puberdade é um tratamento totalmente reversível. Hormônios e cirurgias, esses não têm volta." diz a psiquiatra Annelou de Vries, da Universidade Livre de Amsterdã, o primeiro lugar do mundo a oferecer esse tratamento. Lá, mais de 100 adolescentes estão neste momento tomando o GnRH para, aos 16 anos, começarem com os hormônios sexuais e aos 18, cogitarem a cirurgia de readequação sexual.

Para John, pai da menina Mary (que nasceu Nick), os bloqueadores são um milagre. "Quero que minha filha passe apenas uma vez pela puberdade, e só no sexo feminino. Ela mal pode esperar para começar com os bloqueadores."

Essa história faz todo o sentido na teoria, mas não na prática. Como é possível diagnosticar com segurança o transtorno de identidade de gênero numa criança tão nova? Peguemos o exemplo de André, um produtor de moda homossexual, de 24 anos. Quando criança, seu brinquedo favorito era uma Barbie Lambada, e ele adorava usar uma toalha na cabeça para fingir ter cabelo comprido.

André nem sequer sabia dizer se era menino ou menina. Hoje, ele namora um rapaz, mas jamais cogitaria mudar de sexo. Como saber, ainda na infância, que ele seria feliz em seu gênero de nascença? "Ainda não conseguimos ter 100% de certeza com crianças. O que avaliamos é a insistência dela em ser, se vestir e se comportar como o sexo oposto durante anos de acompanhamento psicológico", diz Vries. O importante nesses casos é a atitude irredutível. Se a criança um dia diz que é menino e no outro menina, é bem provável que a confusão de gênero não siga até a vida adulta. Mas, como tudo que envolve a mente humana, não há como ter certeza.

Um médico americano, Charles Davenport, tentou quantificar a longo prazo o comportamento de meninos afeminados. Dos 10 garotos que ele acompanhou até a vida adulta, 4 viraram heteros, 2 viraram gays, 3 ficaram incertos sobre sua orientação sexual e apenas 1 deles virou transexual e quis trocar de sexo. Isso também se comprova com estatísticas: na infância, 1 em cada 500 crianças pode apresentar alguma variação de gênero. Já entre adultos, o transexualismo é muito mais raro: calcula-se que sejam apenas 1 em cada 30 mil homens e 1 em cada 100mil mulheres. Ou seja, se você conhecer um menino que gosta de brincar de boneca, não há razão para se alarmar. E é justamente isso que torna o tratamento com bloqueadores de puberdade tão polêmico.

Joanne tinha 8 anos quando contou à mãe que, na verdade, era um menino e queria ser chamado de Jack. Sem que os pais soubessem, já dizia para os coleguinhas no colégio que só atenderia por "ele". Para a mãe, a mudança foi traumática, ela precisou de um ano para conseguir fazer a troca de pronomes.

Em compensação, Jack deixou de ser uma menina deprimida para virar o menino contente que é hoje, aos 10. "Os seios de Jack estão começando a despontar, e eu sei que deveria pensar em bloqueadores e cirurgias, mas é muito difícil para mim", diz Anna, a mãe, no livro sobre crianças transgêneres.

Deixar o filho viver no sexo oposto inclui uma série de problemas que nenhum pai gostaria de enfrentar. É preciso contar à família que aquela menina agora atenderá pelo nome de Jack, é preciso pedir que o professor fique atento a provocações com o novo menino na escola e é preciso se despedir do sonho de ver a filha casar e ter filhos. "Eu sempre quis brincar de bola com meu filho, mas percebi que com Mary isso não se tornaria realidade", conta John, pai de Mary que até os 4 anos, era Nick.

No Brasil, até as leis atrapalham a mudança. O conselho federal de medicina proíbe qualquer intervenção com remédios antes dos 18 anos, e a cirurgia é vetada até os 21 anos. Além disso, não é simples convencer alguém de que o filho talvez precise trocar de sexo. "No Brasil, quando a família entende que a mudança logo cedo ajuda, os pais vão sozinhos atrás de remédios e hormônios para os filhos", diz Alexandre Saadeh, psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Tudo indica que as causas para o transtorno sejam biológicas. Em 2008, um estudo do Instituto Karolinska, na Suécia, mostrou que a estrutura e o tamanho de diversas áreas do cérebro são parecidas em homens gays e mulheres hetero, e o mesmo acontece em lésbicas e homens hetero.

Assim, poderia haver uma mente masculina dentro de um corpo feminino e vice-versa. "Imagina-se que pode haver alguma influencia de hormônios durante a gestação. Por exemplo, se o feto é do sexo masculino, mas entrou em contato com hormônios femininos, é possível que o cérebro do bebê, se forme de maneira diferente." diz Carmita Abdo, do projeto sexualidade do Hospital das clínicas. Quando os pais percebem que não adianta forçar a barra para mudar o comportamento do filho, é geralmente também quando enxergam que são eles que precisam mudar.

Ninguém escolheria ser transexual. Eles são a minoria sexual mais discriminada, abaixo de gays, lésbicas, bissexuais e travestis. 73% deles sofrem assédio nas ruas e 45% rompem com a família quando anunciam seu verdadeiro gênero. Os bloqueadores de puberdade ajudam a aliviar o preconceito porque deixam a pessoa com uma aparência mais natural depois da troca de sexo.

As contraindicações são muitas, há indícios de que atrapalham na calcificação dos ossos e se o tratamento for iniciado muito cedo, com bloqueadores e hormônios na puberdade, a pessoa quase certamente ficará infértil. Além disso, a dose do GnRH pode chegar a R$ 3mil.

"Eu vejo que, aos poucos, os pais estão deixando seus filhos fazer essa transformação, mesmo que escondida. Eles preferem ver os filhos felizes e vivos, do que infelizes no sexo biológico" diz Brill. Há alguns anos, quem recomendasse bloqueadores de puberdade a crianças saudáveis seria chamado de louco ou radical. Hoje, alguns lugares já se acostumaram com o arco-íris da sexualidade humana. A Park Day School, em Oakland, nos EUA, é uma escola que dá as boas-vindas a essas crianças. Nos últimos anos, 8 aluninhos que nasceram num sexo, mas vivem no outro, passaram por lá. Na hora de ir ao banheiro, podiam escolher entre o feminino, o masculino e o neutro. Mas nem é preciso ir tão longe: no Mato Grosso do Sul, alunos da rede estadual que vivem no sexo oposto ganharam na justiça o direito de ser chamados pelo nome de sua preferência. A mudança já começou.

Fonte Universidade Livre Feminista